LA PAZ — Milhares de mineiros e indígenas apoiadores do ex-presidente da Bolívia Evo Morales protestaram nesta terça-feira em El Alto, cidade vizinha da capital La Paz. Os manifestantes anunciaram uma greve nacional por causa do adiamento das eleições gerais devido à pandemia do coronavírus.
O protesto começou com uma passeata que reuniu cerca de 5 mil pessoas por vários quilômetros de El Alto, reduto eleitoral de Morales, e foi seguida por uma assembleia na qual decidiram iniciar a paralisação.
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— A partir de hoje, iniciamos uma greve geral por tempo indeterminado nos nove departamentos do país — disse Carlos Huarachi, líder da Central Obrera Boliviana (COB), à multidão — Vamos instruir nossos executivos nacionais e departamentais a se organizarem para coordenar essa greve geral.
Os apoiadores de Morales acreditam que as eleições foram adiadas de setembro para outubro porque seu candidato Luis Arce liderava as pesquisas de intenção de voto. O pleito já teve a data mudada quatro vezes por causa à pandemia e estava originalmente marcado para acontecer em 3 de maio.
Além da greve, aprovada sob aplausos durante a assembleia, os manifestantes também exigiram o bloqueio de estradas, medida que ainda não definida.
Marcha contra o adiamento
Desde cedo, manifestantes percorreram as avenidas de El Alto, carregando bandeiras bolivianas vermelhas, amarelas e verdes e o 'whipala', o símbolo multicolorido dos povos aimará e quíchua.
Embora a marcha tenha sido realizada pacificamente, houve relatos de que manifestantes atacaram jornalistas e uma ambulância. Além disso, pneus foram queimados e a via principal entre El Alto e La Paz, bloqueada.
Não faltaram críticas contra o governo da presidente interina, Jeanine Áñez, e ao Supremo Tribunal Eleitoral (TSE), que na semana passada adiou as eleições de 6 de setembro para 18 de outubro devido à escalada da pandemia.
Eles também gritaram "Viva o processo de mudança", como são chamados os 14 anos do governo de Morales, refugiado na Argentina desde dezembro de 2019, depois de ter ficado por um mês no México após renunciar à Presidência boliviana sob acusação de fraude eleitoral e uma forte revolta social contra ele.
— A data da eleição de 6 de setembro deve ser cumprida — disse à AFP o líder mineiro Lucio Padilla — Não podemos permitir a manipulação do direito e nossa obrigação é defender a democracia.
Durante a marcha, alguns mineiros soltaram rojões.
Froilán Mamani, líder do sindicato camponês Tupac Katari, disse que o TSE deveria recuar sobre a decisão de mudar a data da votação, porque caso não o faça haverá convulsão social.
Os manifestantes também criticaram o governo interino, que eles acusam de não combater eficazmente a Covid-19, que até agora deixou mais de 71 mil infectados e quase 2.500 mortos, em uma população de 11 milhões de pessoas.
Marchas com motivos semelhantes também foram realizadas nas cidades de Cochabamba, Centro da Bolívia, e Cobija, extremo Norte.
Data definitiva
O presidente do órgão eleitoral, Salvador Romero, afirmou nesta terça-feira que a votação de outubro não será adiada.
"O dia 18 de outubro é a data definitiva das eleições na Bolívia, não apenas porque consideramos as variáveis científicas ligadas à evolução da pandemia, mas também porque existe um mandato constitucional", disse Romero, citado pelo jornal Opinión.
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O motivo da prorrogação foi o avanço da pandemia no país; o governo prevê que o pico de contágio será atingido entre setembro e novembro.
O ministro da Presidência, Yerko Núñez, acusou Morales e o candidato Luis Arce de encorajarem as marchas em um momento que país enfrenta uma escalada de casos.
— [Arce] Admitiu que está por trás dessas mobilizações e terá que ser responsabilizado pela decisão que tomou — disse.
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