WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Apesar das projeções sombrias para a reeleição de Donald Trump, ainda há fatores que podem prejudicar Joe Biden e ajudar o presidente na disputa de novembro.
A imprevisibilidade da pandemia, o comparecimento dos eleitores às urnas e os passivos -leia-se habituais gafes- do democrata estão entre os trunfos do atual ocupante da Casa Branca.
Diante de pesquisas que mostram que grande parte dos americanos reprovam sua condução da pandemia, Trump precisa mudar de assunto. Ele espera que os surtos do coronavírus -em alta em pelo menos 43 dos 50 estados americanos- arrefeçam e trabalha para que o tema da eleição se desloque novamente para a economia, área em que tem desempenho mais confortável.
Apesar da confiança em sua política econômica ter caído nos últimos meses, o presidente ainda se sai melhor que Biden na seara do emprego, por exemplo.
Segundo levantamento do New York Times/Siena Poll, 44% avaliam que Trump fará melhor o trabalho ante 38% que acreditam no democrata quando o tema é economia e geração de emprego.
"Trump era favorito no início do ano porque os EUA estavam sob crescimento econômico. Com a crise, Trump não tem mais o privilégio de fazer uma eleição sobre ele, precisa ser uma eleição sobre Biden", afirma Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da FGV-SP.Ele lembra que Trump conseguiu esse movimento sobre Hillary Clinton em 2016, quando boa parte dos americanos votou a favor ou contra a democrata, mas diz que desta vez o presidente não parece ter uma estratégia bem elaborada contra o adversário.
"Biden é o candidato ideal no momento em que você quer que toda a atenção esteja do outro lado, com Trump atirando no próprio pé", completa Stuenkel, ressaltando o estilo low profile do ex-vice-presidente em contraste com o incendiário Trump.
Em 2016, muitos democratas não se animaram com Hillary e não foram às urnas -o voto não é obrigatório nos EUA- o que beneficiou o republicano. O não comparecimento de eleitores jovens e negros, por exemplo, poderia ajudar outra vez o presidente.Mas os mais céticos preferem esperar para ver se Biden vai conquistar os desacreditados da política no geral e que dizem que, para votar, é preciso ver uma agenda de compromissos -e não só o sentimento anti-Trump.
A possível volta de eventos públicos de campanha e os debates também preocupam os assessores de Biden, acostumados com os deslizes em seus discursos e com a pouca desenvoltura do democrata no palco.
Com mais de 4 milhões de casos e 146 mil mortes pela Covid-19 nos EUA, Trump tenta mudar sua abordagem e dar alguma seriedade à pandemia que por tanto tempo minimizou.A cem dias da eleição, o cenário é muito ruim para o presidente, mas sua popularidade permanece acima de 40% em estados considerados chave para a disputa. Na prática, Trump segue no jogo.
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