SÃO PAULO — Uma acusação de estupro contra Gean Loureiro (DEM), prefeito de Florianópolis e candidato à reeleição, virou o principal assunto da campanha eleitoral na cidade nesta semana. O caso ocorreu em 2019, mas foi tornado público na quarta-feira por uma ex-funcionária da prefeitura.
Rosana Ferrari, que concorre a uma vaga de vereadora pelo DEM, partido de Loureiro, registrou um boletim de ocorrência em outubro do ano passado, no qual acusa o prefeito de ter praticado sexo com ela em duas ocasiões, enquanto ela trabalhava na Secretaria Municipal de Turismo, entre 2017 e 2019.
Segundo Ferrari, entre o fim de 2017 e começo de 2018, o prefeito trancou a porta do gabinete onde ela estava e investiu para cima dela, que, em choque, não conseguiu reagir. Ela relata ter tido crises de ansiedade após o episódio, mas que não o contou a ninguém.
O segundo caso aconteceu, segundo ela, em 10 de outubro de 2019, quando recebeu uma mensagem do superintendente da secretaria dizendo que o prefeito usaria o gabinete no qual ela estava para uma reunião. Rosana Ferrari diz que, "temendo que Gean investiria novamente contra ela, colocou o seu celular para gravar". Ela denunciou o ato sexual no mesmo dia. As fotos tiradas por Ferrari circulam nas redes sociais.
Casado e com filhos, Gean Loureiro gravou um vídeo na manhã desta quinta-feira se dizendo "vítima de uma armação eleitoral". Ele assumiu a existência da relação sexual, a que descreve como consensual, e afirmou não se orgulhar da traição, "um assunto doloroso que eu e minha esposa vínhamos tratando dentro das quatro paredes da nossa casa".
"Eu não vou me calar diante dessa tentativa desesperada, essa armação (de) que estou sendo vítima. A poucos dias da eleição, estão tentando transformar em crime um ato consensual entre dois adultos, que aconteceu lá em 2019. Fui alvo de uma armação covarde, com o uso de uma câmera escondida de propósito", declarou o prefeito.
Procurada pelo GLOBO, Rosana Ferrari não retornou. Sua advogada não quis se manifestar. Ao G1, ela nega motivação política:
"Isso não me ajuda em nada politicamente. Então, não é motivação política, de forma alguma", afirmou a mulher. Ela também afirma não ter relação extraconjugal com Loureiro.
Para observadores da corrida eleitoral, o DEM deve manter a narrativa de que se tratou apenas de uma relação extraconjugal, um problema de âmbito privado, e focar na suposta "armação eleitoral". Nos bastidores, apoiadores do prefeito estão usando o episódio para enaltecê-lo como um "paquerador". Diversos memes e mensagens circulam no WhatsApp desqualificando Rosana Ferrari.
Adversários de Gean Loureiro nas eleições afirmam que o episódio tem poder de implodir ou pelo menos derreter sua enorme vantagem nas pesquisas. A duas semanas da eleição, ele está na frente, com 44% de intenções de voto segundo a última pesquisa Ibope. A segunda colocada na corrida eleitoral, Angela Amin (PP), tem 15% das intenções de voto, quase 30 pontos percentuais atrás do prefeito. Pedrão (PL) tem 9% e Elson Pereira (PSOL), 7%.
A campanha de Elson não deve usar o caso como munição eleitoral, mas o candidato vai cobrar investigações pela quebra de decoro, pelo fato de Loureiro ter usado de seu cargo para obter vantagem sexual.
O PSOL deve se postar mais ao lado da vítima, embora integrantes da campanha não rechacem o interesse eleitoral na acusação. Além de ser candidata a vereadora, Rosana Ferrari é próxima do PP do clã Amin, principal adversária do prefeito na disputa, o que causa cautela nos outros candidatos para explorarem a acusação.
Além disso, há proximidade entre uma ala governista e o próprio PP. O vice de Angela Amin, por exemplo, é o atual vice-prefeito, João Batista Nunes (PSDB), rompido com Gean Loureiro.
O candidato Pedrão foi questionado sobre o assunto durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais na noite da quinta-feira. Ele afirmou que vai esperar o avanço das investigações para poder se manifestar — posicionamento que deve ser mantido ao longo da campanha. A avaliação é que aproveitar do episódio para atacar o prefeito pode dar a impressão ao eleitorado de "armação" com vistas a desgastar o mandatário.
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