RIO - "Acontece o tempo inteiro", é assim que o músico Pretinho da Serrinha, de 43 anos, define a situação que vivenciou, na última quinta-feira, num laboratório em São Conrado. Ele procurou o local para fazer um PCR e conta ter se sentido discriminado por funcionárias, que foram ríspidas e fizeram questão de informar o preço quando ele ainda estava do lado de fora. O caso foi noticiado pelo colunista Ancelmo Gois, do GLOBO.
Nesta sexta-feira, Pretinho da Serrinha conversou com O GLOBO e contou mais detalhes sobre a situação. Ele relatou que foi atendido de maneira grosseira por funcionárias do Laboratório Granato. As atendentes queriam a todo tempo se certificar de que ele sabia que o PCR custava R$ 450 e que ali não era a clínica popular do mesmo grupo — que oferece o mesmo exame por um valor menor.
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— Eu sabia onde eu estava, já tinha ido antes. E ales não falam assim com qualquer um. Se chegar uma pessoa branca, eles não vão falar assim — diz o cantor, compositor e produtor musical, que reconheceu no tom das funcionárias a desconfiança de que ele não teria condições de pagar.
Para Pretinho, situações como a que viveu no laboratório, infelizmente, são comuns para a população negra. Apesar de não ter intenção de processar nenhum dos envolvidos no constrangimento, ele acredita que o desabafo talvez sirva de lição e desconstrua preconceitos.
— É uma questão de colocar pra fora uma coisa que acontece o tempo todo. As pessoas precisam aprender a lidar com negro, que negro também chega nos lugares, pode comprar, pode pagar — afirma. — Mas as pessoas têm essa mania de quando chega negro, não esperar. Já vêm querendo dizer que a gente não vai comprar, porque é mais caro. Não sei qual é o medo que eles tem. Mas qualquer justificativa não adianta. Para quem não passou por isso, é bem simples de compreender, mas pra gente que passa por isso todo dia, não dá pra entender muito, não.
O outro lado
O GLOBO conversou com a médica Kátia Granato, responsável pela Policlínica Granato, que pertence ao mesmo grupo do laboratório. Ela explicou que os dois estabelecimentos oferecem o exame PCR a preços diferentes. A clínica, por ser popular, cobra R$ 280.
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No dia anterior à ida de Pretinho da Serrinha, houve uma confusão com dois clientes, que foram por engano ao Laboratório Granato — localizado a poucos metros da clínica — acreditando que pagariam o preço popular. Só teriam percebido a diferença nos valores na hora do pagamento, o que gerou desconforto.
— Os funcionários resolveram peguntar a todos os que chegavam qual era o valor do PCR que a pessoa estava procurando, porque poderia ser o da clínica popular — conta Kátia.
A médica lamentou o fato de Pretinho ter se sentido descriminado no laboratório de sua família.
— Eu, se fosse ele, também poderia me sentir discriminada, porque existe mesmo muito preconceito no mundo e imagino pelo que ele deve passar. Mas lidamos há anos com medicina popular e nunca tivemos esse tipo de queixa — diz a médica, que ainda pretende conversar pessoalmente com o músico.
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