Se existia um time capaz de proporcionar uma zebra neste Carioca, era o Fluminense. O tricolor vive melhor momento que Botafogo e Vasco, ambos às voltas com a Série B, e tem uma histórica capacidade de superação quando enfrenta seu arquirrival. Mas nem os fatos e nem a mística foi capaz de superar a lógica que o rubro-negro impõe ao futebol do Rio nas últimas temporadas. O estado tem um novo tricampeão e ele atende pelo nome de Flamengo.
São cinco títulos cariocas nos últimos oito anos, o que explica a vantagem de seis que o clube da Gávea abre para o das Laranjeiras numa história marcada pelo equilíbrio. Não há sinais de que a disputa parelha de outros tempos dará as caras novamente a curto prazo.
A vitória por 3 a 1 reflete razoavelmente bem a superioridade do Flamengo na maior parte da partida. Especialmente no primeiro tempo, os atuais campeões brasileiros foram de tal forma soberanos que o momento de maior incômodo que tiveram foi uma espécie de fogo amigo. Os jogadores desciam para o vestiário do Maracanã com 2 a 0 no placar e Gabigol, autor dos gols, fez uma brincadeira que Diego Ribas não gostou. O camisa 10, capitão, pediu seriedade aos berros. Rogério Ceni, entre os dois, observou tudo sem nada dizer. Os astros que se entendam.
É compreensível que às vezes falte âncora para puxar esse elenco do Flamengo para mais perto do chão, especialmente no Rio. Com a exceção de resultados isolados — uma vitória tricolor aqui, uma outra vascaína acolá —, a hegemonia do time em campo reflete sem tirar nem por o abismo financeiro que separa o rubro-negro de todos os outros adversários vizinhos. Quem um dia disse que clássico não tem favorito não sabia do quanto de favoritismo o dinheiro é capaz de comprar.
— Somos cobrados no Flamengo todos os dias, em todos os lugares. Mas estamos em um grande time, contamos com uma grande estrutura. E essa é a melhor resposta que damos, dentro de campo, sendo campeões — afirmou o atacante Gabigol.
É favoritismo que não tem mais onde guardar, assim como as taças que abarrotam a sala de troféus do Flamengo na Gávea desde 2019. São nove títulos em um intervalo de dois anos. A deste Estadual está longe de ser a mais vistosa. Mas tem um valor simbólico para o técnico Rogério Ceni.
O treinador, eternamente questionado por parte da torcida, consegue, ao se livrar de uma zebra tricolor, respaldo ainda maior para seguir com o trabalho. O ex-goleiro, apesar das dificuldades para acertar a defesa, tem méritos que às vezes não são notados.
Fred descontou
Um deles ficou evidente na vitória. O Fluminense, com sua proposta de jogo mais reativa, entregou campo para o Flamengo ficar com a bola. Boa parte dos adversários rubro-negros, diante da força da equipe, fazem isso. E Rogério Ceni reage, desde o ano passado, com a escalação de Diego como volante. O rubro-negro joga com quatro meias que poderiam perfeitamente ser camisas 10 — além de Diego, Gerson, Arrascaeta e Everton Ribeiro. Com eles, a equipe eleva demais a qualidade da troca de passes. O time mantém a posse de bola, está sempre rondando a área adversária e, com isso, acaba sendo pouco ameaçada.
Neste sábado, o cenário favorável ao Flamengo só teve alguma mudança em momentos espaçados do segundo tempo. Primeiro, quando Fred conseguiu descontar para o time das Laranjeiras. Depois, em alguns contra-ataques. Uma das últimas chances, em cobrança de escanteio que Danilo Barcelos não desviou por pouco.
Mas parou por aí. O Flamengo ganhou ainda mais espaços e fez o terceiro gol, para matar de vez a partida, com Gomes, aproveitando o rebote de Marcos Felipe na finalização de Pedro. O desafio do Flamengo agora é se manter motivado, o que poderia ficar cada vez mais difícil após mais uma taça conquistada. Rogério Ceni já disse que uma próxima meta é o tetracampeonato inédito no Carioca. Falta tempo até lá. Tem outras taças mais importantes a serem conquistadas pela caminho.
— Esse grupo sabe, é preciso dar sempre mais para continuarmos vencendo — ressaltou Rogério Ceni.
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