Mais de cinco mil imigrantes chegaram, em um dia, ao enclave espanhol de Ceuta

CEUTA, Espanha — O governo espanhol confirmou a chegada, em apenas um dia, de cinco mil imigrantes, mil deles menores de idade, a Ceuta, um enclave da Espanha na costa do Marrocos. O número é o maior já registrado na área, e ocorre em meio a tensões diplomáticas entre os dois países.

Segundo as autoridades, os primeiros imigrantes começaram a chegar ainda na madrugada de segunda-feira, em grande parte viajando em botes improvisados e barcos, além dos que usaram rotas terrestres. Ao longo do dia, o número de pessoas que chegava às fronteiras do território crescia de forma exponencial. Uma pessoa morreu afogada.

Diante da situação, o Ministério do Interior anunciou o envio de 200 agentes da guarda civil e da polícia nacional para reforçar não apenas as áreas fronteiriças, mas também para ajudar a levar os imigrantes para abrigos na praia de Tarajal — não houve repressão aos recém-chegados ao longo do dia. Pelo menos 300 pessoas já retornaram ao Marrocos.

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O número de pessoas que entraram de forma irregular em Ceuta nas últimas horas é quase dez vezes maior do que o registrado desde o início de 2021, e analistas veem relação com o estado das relações diplomáticas entre a Espanha e o Marrocos.

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Em abril, autoridades marroquinas descobriram que Brahim Gali, secretário-geral da Frente Polisário, que luta pela independência do Saara Ocidental em relação ao Marrocos, estava internado em um hospital de Logroño, na região espanhola da Rioja, onde recebe tratamento para a Covid-19. Apesar da Espanha ter confirmado a presença de Gali em seu território “por razões estritamente humanitárias para que pudesse receber assistência de saúde”, o governo de Rabat reagiu com indignação.

Território espanhol até 1975, o Saara Ocidental é alvo de disputa entre o governo do Marrocos, que considera a área como parte integral de seu território, e a Frente Polisário, que hoje controla cerca de 20% do terreno e rejeita a proposta de autonomia regional, porém se submetendo à soberania marroquina.

Em novembro do ano passado, uma longa trégua entre os dois lados foi quebrada, e um mês depois, os EUA reconheceram a soberania do Marrocos sobre todo o território, em troca do restabelecimento das relações do país com Israel. Para a ONU, se trata de um território não descolonizado, formalmente sob administração da Espanha.

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Por conta da sensibilidade do tema entre as autoridades marroquinas, e diante do que veem como um incidente grave, analistas apontam que o governo local pode ter afrouxado os controles sobre aqueles que tentam usar o Marrocos como caminho para entrar na Espanha. Oficialmente, tal versão é rechaçada por Rabat e Madri.

Outro fator que contribui para o aumento do número de imigrantes é a economia: as fronteiras entre as cidades marroquinas e os territórios espanhóis estão fechadas desde março do ano passado, por conta da pandemia. Com isso, milhares de pessoas, em especial mulheres, se viram sem emprego e sem apoio do governo, e chegaram a realizar uma série de protestos em fevereiro.

Além de Ceuta, as autoridades espanholas registraram aumento no número de imigrantes na área do Estreito de Gibraltar: 46 nas últimas horas, número maior do que o visto em todo o mês de abril.

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