Irã é pressionado a estender acordo de monitoramento com agência nuclear da ONU

TEERÃ E PARIS— Diante de uma etapa considerada crucial das negociações para o retorno dos EUA ao acordo internacional sobre o programa nuclear do Irã, um impasse diplomático pode ameaçar um desfecho positivo das conversas. Em meio a pressões vindas de todos os lados, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) cobra uma resposta “imediata” de Teerã sobre a extensão de um acordo de monitoramento de instalações nucleares, que venceu nesta sexta-feira, e é visto como crucial pela agência.

“É necessária uma resposta imediata do Irã sobre o tema”, escreveu o chefe da AIEA, Rafael Grossi, em comunicado à Junta de Governadores da agência. “O diretor-geral enfatiza a importância vital de continuar com as atividades necessárias de verificação e monitoramento do organismo no Irã, incluindo a obtenção e armazenamento ininterruptos de dados por sua equipe de monitoramento e vigilância”.

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O acerto a que se refere Grossi foi uma maneira de amenizar os impactos da decisão iraniana de suspender a cooperação com a agência no começo do ano, mais um dos compromissos previstos no acordo nuclear de 2015 e que não estão sendo observados por Teerã desde meados de 2019, um ano depois da decisão dos EUA de abandonar o plano.

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Pelo acordo nuclear internacional, fechado por Irã, EUA, Reino Unido, China, França, Alemanha e Rússia, além da União Europeia, em 2015, Teerã se submeteria a limites às suas atividades de enriquecimento de urânio, limitadas a 3,67%, de armazenamento e de desenvolvimento de equipamentos mais avançados. Em troca, sanções impostas à economia local e relacionadas às suspeitas de militarização do programa nuclear seriam abandonadas, além de ações para integrar o país ao sistema de comércio internacional.

O programa funcionou sem sobressaltos em seus anos iniciais, sendo louvado por ajudar nos planos para tornar o Oriente Médio uma região mais segura e estável. Mas com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, que chamava o texto de “pior acordo da história”, os EUA acabaram deixando o acordo, em 2018, aplicando uma política dura de sanções, a “Pressão Máxima”, que se assemelha a um bloqueio econômico.

Essa mudança de rota praticamente sepultou o plano, e levou às autoridades iranianas a deixarem de cumprir algumas das provisões do texto, como sobre o enriquecimento de urânio, hoje a 60%, ainda distante dos 90% necessários para uma bomba. Para muitos analistas, além de tornar o Golfo Pérsico mais perigoso, a política de Trump colaborou para o fortalecimento da “linha dura” iraniana, culminando com a eleição de Ebrahim Raisi, chefe do Judiciário, à Presidência, na semana passada.

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Apesar de manter em vigor a política de pressão máxima, o governo de Joe Biden sinalizou que poderia recolocar os EUA no plano, e em abril os signatários iniciais concordaram com conversas indiretas em Viena, e que hoje estão paralisadas.

Os iranianos exigem o fim imediato de todas as sanções e a retomada dos termos iniciais do acordo. Segundo as autoridades, todas as violações aos compromissos poderiam ser revertidas imediatamente, incluindo sobre o grau de enriquecimento.

Nesta sexta, diante da pressão vinda da AIEA sobre a extensão do acordo, o embaixador iraniano junto à agência, Kazem Gharibabadi, declarou que o país “não era obrigado a responder” aos questionamentos do diretor-geral. Na quarta-feira, o Conselho Supremo de Segurança Nacional do país disse que “tomaria uma decisão” sobre o tema depois do fim do prazo do acordo.

Troca de acusações

Ao comentar o impasse, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que um acerto poderia estar em risco se os iranianos não fizessem concessões.

— Chegará o momento em que será difícil retornar aos padrões — afirmou o secretário, se referindo aos termos iniciais do acordo de 2015. — Ainda não chegou esse momento, não posso colocar um limite, mas é algo do qual temos consciência.

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Também signatária, a França acompanha os EUA na pressão sobre Teerã.

— Esperamos que as autoridades iranianas tomem as decisões finais, sem dúvida difíceis, que permitam concluir as negociações — declarou o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, ao lado de Blinken em Paris.

A resposta iraniana não tardou.

“As partes opostas [ao acordo] é que devem tomar as decisões”, afirmou, em nota, o porta-voz da chancelaria do Irã, Saeed Khatibzadeh.

Muito embora as decisões de política externa caibam ao líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, analistas temem dificuldades caso as negociações sigam além de agosto, quando o conservador Ebrahim Raisi tomará posse como presidente. Diplomatas iranianos garantem que não haverá mudanças bruscas nas conversas — o próprio Raisi se comprometeu, no passado, com o cumprimento do acordo, ao mesmo tempo em que tecia críticas às concessões feitas ao Ocidente através do texto, refletindo uma posição da linha dura do regime.

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