Lava Jato do Peru investiga Keiko Fujimori por suposta lavagem de dinheiro na campanha deste ano

LIMA - A força especial Lava Jato do Peru abriu uma nova investigação sobre Keiko Fujimori e o seu partido Força Popular por lavagem de dinheiro, em um caso de suposta tentativa de suborno de juízes ligado à eleição deste ano, para reverter o resultado das urnas.

O pedido de investigação foi feito pelo procurador José Domingo Pérez, que já investigava suposto financiamento ilegal das campanhas presidenciais de Keiko em 2011 e de 2016.

O pedido decorre de denúncias feitas na última semana, quando o líder do partido Frente da Esperança, Fernando Olivera, apresentou uma série de áudios de Vladimiro Montesinos, ex-assessor de Alberto Fujimori (1990-2000), nos quais há indícios de um complô para subornar juízes e fraudar o resultado eleitoral em favor de Keiko.

O pedido de investigação traz a transcrição de uma das gravações de Vladimiro Montesinos em que ele afirma que Keiko Fujimori e o Força Popular “receberam muito dinheiro, mas tiraram do c*, e estão jogando para eles” [juízes].

Além de Montesinos, segundo Olivera, também participaram das conversas Kenji Fujimori, irmão de Keiko, e o comandante reformado Pedro Rejas Tataje, além de uma quarta pessoa identificada como Guillermo Sendón, advogado e ex-militante da Apra (Aliança Popular Revolucionária Americana), um partido tradicional peruano. As comunicações são a partir de 10 de junho, após serem conhecidos os resultados do segundo turno e encerrado o prazo para admissão dos pedidos de anulação, na quarta-feira, 9 de junho.

Em uma gravação, Montesinos — que está preso em uma base naval e se comunicava por celulares — conversa com Rejas e lhe dá o contato de Sendón. Segundo ele, Sendón tem ligações com três juízes do Júri Nacional de Eleições (JNE), o órgão máximo da Justiça eleitoral peruana. Nesta chamada, Montesinos sugere a compra de três magistrados para mudar o resultado.

— Com três [juízes do JNE] basta. Então, seria bom se você pudesse encontrá-lo [Sendón] para que ele possa apoiá-lo e, bem, ele tem que pôr um pouco de gasolina. Você já me entende, não é? — disse Montesinos.

Domingo Pérez sustenta que, depois dos fatos denunciados, há indícios de que "o Força Popular estaria, sob diversas modalidades, capturando bens de origem ilícita, pelo que é oportuno sustentar — em um grau de simples suspeita inicial — que a atividade criminosa da organização não cessou nesta campanha eleitoral de 2021, e que seria possível qualificá-la como crime de lavagem de dinheiro, nas modalidades de conversão e transferência, e ocultação e posse ”.

Em outra seção do documento, o promotor cita diversos políticos e empresários a quem Montesinos pede dinheiro para financiar as anulações e menciona diretamente Dionisio Romero, Arturo Woodman e Rafael López.

O promotor ordenou que se solicite à Unidade de Inteligência Financeira (FIU) um relatório sobre as operações suspeitas ligadas a Keiko Fujimori, o Força Popular e qualquer pessoa física e jurídica a eles vinculada no período da campanha eleitoral deste ano.

De acordo com o documento da Procuradoria, a investigação preliminar terá o prazo máximo de 36 meses, “sem prejuízo de ser concluída antes desse prazo”.

Keiko Fujimori se pronunciou sobre o caso e afirmou que seria uma manobra do promotor para “encobrir” o caso Dinâmicos do Centro, que envolve pessoas vinculadas ao partido Peru Livre, de Pedro Castillo. “Em momentos decisivos para o país, o procurador Pérez lança um novo espetáculo para encobrir o caso dos Dinâmicos do Centro”, afirmou.

Ela questionou novamente o procurador da Lava Jato, criada à semelhança da força-tarefa brasileira. “Acho que sua obsessão e desejo de aparecer foram suficientes. Vou pedir ao Ministério Público e outras autoridades que o excluam deste novo caso para evitar que seu óbvio viés distorça esta investigação com a qual colaborarei como faço há mais de 20 anos ”, disse Keiko numa rede social.

Keiko já está sob denúncia do Ministério Público, entre outras acusações, por lavagem de dinheiro. O promotor Pérez pediu uma sentença de 30 anos e 10 meses após uma investigação de mais de dois anos também ligada às campanhas eleitorais (2011 e 2016).

Em junho, um novo pedido de prisão provisória de Keiko, por suposta violação da liberdade condicional, foi negado.

Castillo nega acusações

O candidato esquerdista Pedro Castillo negou ontem ter recebido financiamento irregular em sua campanha para a Presidência do Peru, em meio a investigações feitas pela Promotoria ao partido político que o indicou, e disse estar disposto a se submeter a qualquer investigação.

Castillo, que espera ser proclamado o novo presidente do Peru após o encerramento da contagem oficial, disse que a campanha foi realizada com contribuições de apoiadores.

A procuradora Anticorrupção de Junín, Bonnie Bautista, indicou que membros da suposta organização criminosa Dinâmicos do Centro, que se dedica à falsificação de carteiras de habilitação naquela região do centro do país, procuraram injetar fundos ilícitos na campanha eleitoral do partido Peru Livre, sigla usada por Castillo nas eleições.

O líder do partido, Vladimir Cerrón, foi condenado por corrupção quando era governador de Junín. A contagem oficial da eleição, que chegou a 100% há duas semanas, deu a Castillo 50,12% dos votos contra 49,87% da direitista Keiko Fujimori, que pediu a revisão de milhares de votos.

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