RIO — A cidade do Rio atingiu nesta quinta-feira a marca de 50% de toda a população vacinada contra a Covid-19 com ao menos uma dose. Segundo a prefeitura do Rio, já foram aplicados mais de 4,5 milhões de vacinas na cidade, sendo 3,2 milhões de primeiras doses. Com a chegada do imunizante da fabricado pela Janssen, que é aplicado em dose única, mais de 1,2 milhão de cariocas já completou esquema vacinal — o que corresponde a 23% dos maiores de idade.
Contabilizando apenas os maiores de 18 anos, a cobertura já chegou a 64% da primeira etapa da imunização. A prefeitura deve divulgar nesta sexta-feira o calendário da próxima semana, mas O GLOBO apurou que nele não deve conter nenhuma data para repescagens. Além disso, os dias para os "atrasados" serão cada vez mais raros. Até este sábado, pessoas com 40 anos ou mais podem se vacinar.
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Nesta quarta-feira, o Rio atingiu o recorde de vacinados em apenas um dia. Foram mais de 76 mil pessoas que foram aos postos de e começaram ou completaram a imunização contra o coronavírus, 20% a mais do que a média diária dos dias anteriores.
— Esse é um marco — comemorou o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz — Até o fim do dia devemos alcançar 65% da população alvo, até 18 anos vacinado. Isso é resultado da intensificação da vacinação
Atingir uma cobertura de 90% de imunizados com ao menos uma dose na faixa etária de 40 a 49 anos é principal meta da prefeitura neste momento. Dados do Sivep Gripe, que reúne informações de internações por Covid-19 em hospitais públicos e privados, apontam que desde maio, cerca de 45% dos hospitalizados com a doença tem entre 40 e 59 anos.
'Sommeliers' se articulam nas redes e criam grupos para escolher imunizante no Rio
Enquanto a vacinação contra a Covid-19 avança na cidade do Rio, e em meio aos apelos dos especialistas e das autoridades para que a população não escolha qual imunizante tomar, grupos se articulam nas redes sociais para mapear, todos os dias, quais as vacinas aplicadas em cada posto. Apenas um deles, criado em junho e com nome remetendo à Pfizer, já tem mais de 4,2 mil membros. Assim que o interessado entra no grupo, recebe uma mensagem informando que não há informações internas da prefeitura, mas sim uma convocação para que os membros saiam de casa e descubram quais as fabricantes estão sendo aplicados naquele dia em cada um dos locais de vacinação.
Nesta quarta-feira, a primeira "dica" chegou logo no início da manhã, às 7h38, antes mesmo do começo oficial da vacinação. A mensagem trazia a informação que o Centro Municipal de Saúde Milton Fontes Magarão, no Engenho de Dentro, estava aplicando a Janssen. No fim da tarde, após centenas de mensagens no grupo, a lista já continha informações de 65 outras unidades.
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"Muito obrigada pela iniciativa de criarem esse grupo!! Fui cedinho no Planetário (era uma das primeiras da fila), segui para a Casa Firjan e consegui Pfizer no Theatro Municipal. Deus multiplique bênçãos para vocês e todos que ajudam demais aqui", escreveu um dos membros.
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Quando o assunto dos "sommeliers" aparece no grupo, muitos se defendem. Após um dos membros compartilhar uma matéria do GLOBO com especialistas explicando por que essas pessoas erram a análise de eficácia, ignoram efetividade e atrasam o combate à pandemia, algumas pessoas até tentaram se justificar. Mas a presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia do Rio, Tânia Vergara, é veeemente na crítica a quem busca os postos para escolher os fabricantes. Ela vê com bons olhos a ida dessas pessoas para o "fim da fila", ventilada nesta semana pelo prefeito Eduardo Paes:
— Não dispomos de vacinas para escolhas 'à la carte'. Enquanto a pessoa se desloca de um lugar para outro nessa busca, acaba ficando dias sem se vacinar e, portanto, exposta à doença. Ainda por cima, pode fazer com que alguém agendado para o dia fique sem a vacina. Não é nem adequado, nem justo. As pessoas que perdem seu dia de vacina por essa escolha deveriam ficar para o final da fila, quando, talvez, já tenhamos vacinas disponíveis para essa escolha — afirma Vergara.
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Apesar da mobilização dos grupos nas redes sociais, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, garante que a prática não terá o resultado esperado, já que a distribuição acontece de forma uniforme entre todos os postos de vacinação. Ele ainda alerta que essa movimentação entre as unidades pode atrapalhar a campanha:
— É muito pouco provável que esses grupos deem certo. Hoje (quarta-feira), por exemplo, foi uma única vacina para todas as unidades. Não faz sentido rodar de unidade em unidade. As pessoas precisam evitar circular nos postos desnecessariamente, e perguntando e escolhendo acabam atrapalhando a vacinação de todos — diz Soranz.
Recorde de vacinação
Nesta quarta-feira, o GLOBO notou um movimento incomum na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Ao contrário de outras unidades, que formavam menos aglomerações, o posto tinha duas filas, cada uma com pelo menos 100 pessoas. "São as vacinas, da Janssen e da Pfizer, que demos hoje, são duas que a galera procura muito. As pessoas aqui só querem saber delas. A Janssen acabou na metade do dia, mas muita gente ficou por causa da Pfizer", comentou um dos profissionais, estudantes da Unigran-Rio, que aplicavam as doses.
Dados aos quais O GLOBO teve acesso mostram que, somente nesta quarta-feira, o município aplicou 76 mil doses — o recorde para um dia e 20% a mais que a média diária desta semana.
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Sobre as filas na Cidade das Artes, Soranz disse que o movimento já era esperado e que esse grupo de "atrasados" tende a reduzir nos próximos dias. E frisou que o costume de escolher vacina pode comprometer a meta de cobertura vacinal da cidade para a faixa etária dos 40 a 59 anos, que atualmente corresponde à maioria das internações por Covid-19 na cidade e por isso é considerada uma peça-chave para o sucesso da campanha.
— (O movimento na Cidade das Artes) Estava dentro do público esperado, mas hoje (quarta-feira) estávamos fazendo uma idade só e em uma região que muitos estão previstos para tomar a segunda dose também. Pretendemos encerrar o grupo de 40 a 59 anos com 90% de cobertura até sábado. A prefeitura tem muito interesse em vacinar esse grupo, mas por ignorância e falta de conhecimento um grupo tenta escolher vacinas, de forma quase irracional porque não faz o menor sentido. A gente espera que isso não seja uma prática e a pessoa tenha consciência de que atrasar o processo de imunização dela ela não está prejudicando somente ela e sim todo o coletivo e quem está em volta dela — afirma Soranz.
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