Organizadores dizem que atos de vandalismo não resumem manifestações contra Bolsonaro

SÃO PAULO — Os organizadores das manifestações no sábado pedindo o Impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e celeridade na vacinação contra a Covid-19 fizeram um balanço positivo do protesto e classificaram os episódios de vandalismo como “isolados”. Em São Paulo, o ato iniciado pouco depois das 15h na Avenida Paulista, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp) teve momentos de embate quando atingiu a Rua da Consolação, já em seus momentos finais.

Um grupo de cerca de dez pessoas ateou fogo na via, quebraram pontos de ônibus e depredaram a fachada da Universidade Presbiteriana Mackenzie. As cenas violência e confronto com policiais destoavam do que foi visto em manifestações anteriores organizadas pelos mesmos grupos.

— A organização da manifestação prevê que ela ocorra de maneira pacífica. Até porque o nosso objetivo é que todo mundo que queira se somar a manifestação se sinta seguro — diz Josué Rocha, integrante da Frente Povo Sem Medo. — Somos contrários (a esse tipo de ações) nas manifestações.

O integrante da Uneafro Brasil e membro da Coalizão Negra por Direitos, Douglas Belchior chamou os embates entre grupos de algo “absolutamente localizados'' e afirmou que ocorrem pelas mãos de “grupos que não representam o todo”.

— São ações isoladas que não caracterizam as manifestações. Não é o caráter do ato. A orientação geral é de que sejam (movimentos) pacíficos — afirma Belchior.

O presidente Jair Bolsonaro utilizou imagens do final do ato, no momento dos confrontos, para criticar a ação dos manifestantes. Em suas redes sociais, escreveu: “nenhum genocídio será apontado. Nenhuma escalada autoritária ou "ato antidemocrático" será citado. Nenhuma ameaça à democracia será alertada. Nenhuma busca e apreensão será feita. Nenhum sigilo será quebrado. Lembrem-se: nunca foi por saúde ou democracia, sempre foi pelo poder!”. O senador Flávio Bolsonaro (Patriota) também postou vídeos do mesmo momento.

— Bolsonaro quando usa essas imagens ele tenta responder à sua base que é cada vez menor e mais radicalizada a partir do seu próprio estímulo. A grande maioria da sociedade já não vê capacidade do Bolsonaro continuar no governo. Acredito que teremos cada vez mais pessoas na rua — diz Rocha.

Diversidade e embate

Novidade, a adesão de grupos de centro e de direita marcaram o ato de sábado. Houve, contudo, uma confusão envolvendo membros do PCO e do PSDB. O problema foi iniciado quando integrantes do PCO agrediram fisicamente um grupo de tucanos que havia ficado para trás do aglomerado de pessoas do mesmo partido. Vídeos do momento do embate mostram empurrões e agressões com pedaços de madeira. Além disso, uma bandeira do PSDB foi queimada. Participantes do ato, porém, apartaram a briga evitando que alguém se machucasse com gravidade.

— Foi um ato isolado. Alguns integrantes do partido ficaram para trás do carro de som com a bandeira e, enfim, vulneráveis. Acho que deveria ter oito ou nove pessoas (do PSDB) — comenta Fernando Alfredo, presidente do diretório municipal do partido.

Apesar do ocorrido, o diretório da capital paulista do PSDB garante que pretende participar de outras manifestações.

Também fez sua primeira participação em atos a favor do impeachment a deputada federal Tabata Amaral (sem partido). A parlamentar diz que não viu qualquer tipo de hostilidade no percurso da passeata, embora repudie o ocorrido entre tucanos e o PCO. Ela disse que, nesta semana, pela primeira vez ouviu colegas parlamentares de centro comentarem o impedimento do presidente, uma pauta normalmente tema de conversas de partidos de esquerda. O aparecimento da conversa esteve atrelada ao que foi chamado de ‘superpedido’ de impeachment, capitaneado por ex-bolsonaristas e líderes de movimentos sociais.

— Ontem (sábado) foi a manifestação mais diversa que a gente viu, mas sem tentar romantizar a coisa, ainda foi uma manifestação de esquerda. Pela primeira vez se viu outros partidos participando — afirma a parlamentar.

Saldo positivo

Para os organizadores, o saldo das manifestações foi positivo, sobretudo porque o ato foi convocado com apenas uma semana de antecedência. As manifestações, dizem as lideranças, foram uma resposta à CPI da Covid, que passou a investigar irregularidades na compra de vacinas.

— Foi um acerto político antecipar e jogar mais pressão para o Congresso Nacional, pressão para o (presidente da Câmara Arthur) Lira e, sobretudo, manter a mobilização da opinião pública neste grande sentimento de ‘basta’ desse governo genocida e agora corrupto comprovadamente — diz Douglas Belchior, da Coalizão Negra por Direitos.

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