BRASÍLIA — A CPI da Covid deve desmarcar uma acareação entre o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, e o deputado federal Luis Miranda, marcada para a próxima quarta-feira, em que seriam colhidas mais informações sobre o caso Covaxin. O entendimento da cúpula da comissão é que a acareação não acrescentaria muito.
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O ministro Onyx Lorenzoni fez uma apresentação no Palácio do Planalto para rebater as acusações feitas pelo deputado Luis Miranda, dizendo que o deputado teria falsificado um recibo ("invoice") que apresentou na CPI. A questão é paralela dentro do caso da vacina indiana Covaxin, avaliam agora os senadores.
— O que nós estamos avaliando é o que podemos tirar na acareação, além de saber sobre aquele invoice. Mais nada — diz Omar Aziz (PSD-AM), presidente da comissão, que planejava debater o caso com outros senadores na noite deste domingo. — O Luis Miranda vai falar o quê? Quem tinha que falar sobre essa questão era o irmão dele (servidor do Ministério da Saúde). Mas vai ser uma coisa normal, alguém vai estar lá na CPI e falar. Vamos mudar o rumo.
Para o vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a comissão está entrando em sua "reta final". No fim da segunda semana após o recesso parlamentar, a cúpula da CPI está concentrada em terminar o relatório e considera que as principais linhas de investigação já encontraram evidências robustas para basear um indiciamento.
— Eu, Renan (Calheiros), Omar (Aziz), ainda estamos dialogando, mas nós estamos entrando na reta final da CPI. A nossa expectativa é entregar o relatório em setembro — diz Randolfe ao GLOBO, acrescentando:
— A CPI equipara-se ao trabalho de delegado. No final, o resultado de CPI é indiciamento. Mas para algumas coisas vamos ter elementos tão fortes que não tem como ter responsabilização.
Ele prevê que, no relatório final, devem constar pedidos de indiciamento do presidente Jair Bolsonaro pelos crimes de "charlatanismo, curandeirismo, crime de epidemia e prevaricação". O senador Renan Calheiros (MDB-AL) já tem sondado colegas sobre quais autoridades além de Bolsonaro devem ser indiciadas, especialmente aquelas ligadas ao Ministério da Saúde.
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Gabinetes de senadores detectaram uma queda no engajamento nas redes sociais e na audiência da CPI, o que também estava previsto. A melhora na situação da vacinação e a crise institucional entre o governo federal e o Supremo Tribunal Federal (STF) nas últimas duas semanas ajudaram a mudar o foco da atenção pública, avaliam parlamentares.
Embora a CPI tenha sido prorrogada formalmente até o início de novembro, a previsão dos senadores é que a entrega do relatório aconteça no máximo até o final setembro, para não perder o "timing" político.
Para o senador Otto Alencar (PSD-BA), também membro do "G7", que une independentes e oposição na CPI, há ainda a perspectiva de avançar no caso da vacina indiana Covaxin, mas o relatório já está robusto.
— A CPI já cumpriu seu papel. Está apenas terminando oitivas que precisam ser concluídas. Tem elementos de corrupção na Precisa, Covaxin, VTC Log, tem elementos de tráfico de influência, advocacia administrativa, improbidade, prevaricação no caso do presidente da República — diz Alencar. — O relatório tem 300 e tantas páginas, tem provas, tem vídeos, tem gravações, tem elementos de sobra para responsabilizar os culpados pela compra de vacinas inadequadas, estimular imunidade de rebanho.
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Na semana que vem, na terça-feira, será ouvido o servidor do Tribunal de Contas da União (TCU) Alexandre Costa e Silva, acusado de ter inserido no sistema interno do tribunal um documento questionando o número de mortes por Covid no Brasil, divulgado por Bolsonaro em rede social.
Como antecipou a TV Globo, em depoimento em sindicância interna da Corte, Costa e Silva argumentou que enviou o documento sem nenhuma referência ao tribunal ao seu pai, que, por sua vez, o encaminhou ao presidente. Ele supõe que a adulteração do documento, em que foi inserida a marca d'água do tribunal, tenha ocorrido no Palácio do Planalto. Na quinta-feira, será ouvido Francisco Maximiano, presidente da Precisa Medicamentos, empresa que vendeu a vacina indiana ao governo brasileiro em fevereiro.
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