Pandemia prejudica mais as mulheres e pode aumentar desigualdade de gênero, alerta Fundo Monetário

WASHINGTON – A crise global provocada pela pandemia do novo coronavírus afeta mais as mulheres que os homens e pode reverter as conquistas femininas no mercado de trabalho, alertou na segunda-feira o Fundo Monetário Internacional (FMI). Para a entidade, os países precisam adotar medidas para minimizar esse impacto.

Uma equipe, liderada pela diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, afirma que "a pandemia de Covid-19 ameaça reverter os ganhos obtidos em termos de oportunidades econômicas para as mulheres e, assim, ampliar as disparidades de gênero que persistem apesar de 30 anos de avanços."

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Em texto publicado no blog do Fundo, as pesquisadoras – o texto só é assinado por mulheres – lembra que os setores mais afetados pela pandemia têm uma participação feminina maior. Isso ocorre especialmente nos serviços que demandam interação pessoal e não podem ser feitos remotamente, como varejo, turismo e hotelaria.

"Nos Estados Unidos, cerca de 54% das mulheres empregadas nos setores sociais não conseguem trabalhar de casa. No Brasil, essa porcentagem sobe para 67%. Nos países de baixa renda, apenas cerca de 12% da população, no máximo, consegue trabalhar a distância."

Perda de capital humano feminino

Outro ponto é que, de forma geral, há mais mulheres que homens trabalhando no setor informal.

"No emprego informal — normalmente remunerado em dinheiro, sem fiscalização das autoridades — as mulheres recebem salários mais baixos, não estão protegidas pela legislação trabalhista nem recebem benefícios como aposentadoria ou seguro-saúde", alertam as pesquisadoras.

Outro ponto que afeta mais as mulheres é que elas exercem cerce de 2,7 horas a mais de tarefas domésticas não remuneradas que os homens. Elas arcam com as consequências da pandemia, como o cuidado de crianças e pais idosos devido ao fechamento de escolas e asilos.

Outro efeito negativo da pandemia é o risco de perda de capital humano feminino. As pesquisadoras alertam que, "em muitos países em desenvolvimento, as meninas e jovens são forçadas a abandonar a escola e a trabalhar para complementar a renda familiar."

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As pesquisadoras do FMI lembram que na Índia, de acordo com a imprensa local, os sites de casamento registraram alta de 30% nas inscrições depois de a quarentena ter sido decretada, com mais famílias buscando maridos para suas filhas.

"Sem estudo, essas meninas sofrem uma perda permanente de capital humano, sacrificando o crescimento da produtividade e perpetuando o ciclo de pobreza entre as mulheres."

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Ajuda financeira a vulneráveis

Elas apontam algumas medidas que podem minimizar os impactos negativos da pandemia sobre a população feminina. Estas incluem ampliar o auxílio financeiro aos mais vulneráveis, preservar os vínculos empregatícios, oferecer incentivos para equilibrar as responsabilidades no trabalho e na família, melhorar o acesso à saúde e ao planejamento familiar e expandir o apoio às pequenas empresas e aos trabalhadores autônomos.

A longo prazo, a fim de reduzir a desigualde de de gênero, as pesquisadoras afirmam que os governos precisam criar condições e incentivos para que as mulheres trabalhem. Elas ressaltam que "investir em educação e infraestrutura, subsidiar creches e oferecer licença parental são particularmente eficazes. Essas políticas não são apenas cruciais para eliminar as restrições ao empoderamento econômico das mulheres, mas também necessárias para promover uma recuperação inclusiva após a Covid-19."

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