Candidato de Trump ao BID reage a campanha por adiamento e pressiona por eleições logo

WASHINGTON - Um funcionário do governo Trump indicado para liderar o principal banco de desenvolvimento da América Latina revidou a crescente oposição regional a sua candidatura, a primeira de alguém de fora da América Latina, a classificando como "subversiva" e liderada pela Argentina.

Mauricio Claver-Carone, membro do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca e conhecido por sua postura linha-dura em relação a Venezuela e Cuba, é o favorito para ser eleito para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em eleições marcadas para 12 e 13 de novembro.

A sua candidatura quebra uma tradição de seis décadas em que a instituição é presidida por um latino-americano e põe fim à estratégia do presidente Jair Bolsonaro de apresentar uma candidatura própria do Brasil. Sua indicação é vista como uma maneira de Trump cortejar as comunidades cubana e venezuelana da Flórida, em ano eleitoral.

Vários países, incluindo Argentina, México, Costa Rica e Chile, e o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, pediram o adiamento da votação, alegando preocupação com a presença de um líder do BID de fora da região. Segundo o Los Angeles Times, o Canadá também deve nos próximos dias se manifestar a favor do adiamento do pleito.

O indicado de Trump atacou a Argentina, nomeando o país como o principal responsável pela oposição contra si. Claver-Carone disse que 17 países lhe deram apoio regional.

— Estamos vendo um esforço minoritário, liderado pelo governo da Argentina, para poder obstruir as eleições porque não puderam ou não quiseram apresentar uma visão competitiva — disse.

Ele descreveu um “esforço minoritário, impeditivo e subversivo” por parte do governo liderado por Alberto Fernández, que, segundo descreveu, poderia deixar o banco “paralisado” e afugentar os investimentos do setor privado na região.

— Ninguém ajudou mais no relacionamento entre os Estados Unidos e o México do que eu — disse Claver-Carone, que disse que pretende aumentar o capital do banco e melhorar a transparência dos empréstimos.

O Ministério das Relações Exteriores da Argentina e o Ministério das Finanças do México não quiseram comentar. O ministro das Relações Exteriores do Chile, Andrés Allamand, disse na terça-feira que as "declarações agressivas" de Claver-Carone provam que sua eleição seria "muito inadequada".

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Um candidato precisa do apoio de pelo menos 15 dos 28 países-membros da região e da maioria dos votos totais para vencer. O percentual de controle de voto refere-se às ações de cada país no banco, e pelo menos 75% dos membros devem estar presentes para cumprir o quórum mínimo, ou a eleição é remarcada.

A vitória do americano estava garantida pelo apoio dos Estados Unidos, que tem 30% dos votos, do Brasil (11,3%), da Colômbia (3,1%) e de outros países latino-americanos comprometidos com Washington.

Chile, México, Argentina e Costa Rica juntos representam pouco mais de 22% dos votos. No entanto, se somados os votos dos 16 países europeus que são sócios contribuintes do BID, chega-se aos 25% necessários para bloquear a sessão e provovar o adiamento da eleição, que ocorreria apenas no próximo ano, quando Trump pode não estar mais na Casa Branca.

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Para os europeus, um americano na direção do BID romperia um equilíbrio internacional mais amplo, pelo qual um representante da Europa sempre comanda o FMI, e um dos EUA o Banco Mundial. Se Claver-Carone prevalecer, os americanos ficariam na chefia de duas das três principais instituições financeiras multilaterais.

Claver-Carone observou que os países europeus votam individualmente, e não enquanto bloco, independentemente da posição do chefe da diplomacia europeia.

O principal argumento do candidato americano é que os países que são sócios do banco decidiram por unanimidade, no dia 9 de julho, realizar a votação de setembro por videoconferência, quando já existia o contexto de suspensão das atividades por conta da pandemia do coronavírus. Claver-Carone também afirmou que permanecerá no comando do banco por um período de cinco anos e que não buscará a reeleição.

— Os Estados Unidos não têm intenção imperialista — disse ele.

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