BEIRUTE — O navio que carregou 2.750 toneladas de nitrato de amônio até porto de Beirute nunca saiu de lá, segundo uma reportagem investigativa do jornal New York Times. A embarcação afundou a poucos metros do epicentro das grandes explosões que deixaram ao menos 158 mortos e mais de 6 mil feridos.
A causa exata do desastre do dia 4 de agosto ainda é desconhecida, mas informações iniciais apontam para a carga do navio Rhosus. Altamente inflamável, o nitrato de amônio estava armazenado no galpão 12 do porto de Beirute desde 2014, sem as condições necessárias de segurança.
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O estopim para a detonação do material, usado para fabricar explosivos e fertilizantes, também ainda não está claro. Os danos materiais da explosão, presentes na maior parte da capital libanesa, são estimados em ao menos US$ 15 bilhões.
Em uma reportagem investigativa, o NYT conseguiu traçar os passos da embarcação até que seu casco afundasse na extremidade norte do píer, a cerca de 305 metros de onde atracou inicialmente.
O navio de 27 anos havia saído de Batumi, na Geórgia, rumo a Beira, em Moçambique, em setembro de 2013. O capitão Boris Prokoshev, no entanto, foi ordenado a fazer uma parada em Beirute para buscar carga adicional — dinheiro que seria necessário para pagar sua passagem pelo canal de Suez. Segundo Prokoshev, o destino deste material seria a Jordânia.
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Ao chegar em Beirute, no entanto, as autoridades libanesas constataram que o Rhosus não teria condições de seguir viagem. Prokoshev e quatro outros tripulantes foram obrigados a permanecer a bordo por quase um ano após o navio ser abandonado por seu suposto dono, Igor Grechushkin.
Fotos de 2014 mostram cerca de 2.750 sacos de nitrato de amônio na embarcação, condizentes com imagens do material fotografado posteriormente no porto e postadas no Twitter por um jornalista libanês. Na fotografia, é possível ver o nome da empresa que produziu o material, a Rustavi Azot L.L.C. da Geórgia, mesmo nome listado nos documentos de viagem do Rhosus.
A carga, posteriormente, foi enviada para um armazém no porto. Em 2015, o navio foi deslocado para o ponto onde começaria a afundar três anos depois. Imagens de satélite mostram uma embarcação bastante similar ao Rhosus no local, com os seus tanques de armazenamento vazios. Uma foto postada no Twitter em 2016 mostra imagens similares.
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Com problemas estruturais, o navio começou a afundar em fevereiro de 2018 e, em questão de dias, estava completamente debaixo d’água. Stephen Wood, especialista em imagens de satélite na empresa de tecnologia espacial Maxar, analisou a imagem para o New York Times, mostrando seus detalhes.
O navio nunca foi removido do norte do porto, onde não atrapalhava o fluxo marítimo. Segundo o presidente do Líbano, Michel Aoun, os diversos governos que o país atravessou desde 2013 receberam notificações sobre a carga do Rhousus. Atéo o momento, 20 funcionários do porto de Beirute foram presos, conforme as investigações prosseguem.
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