Há quatro anos, 50 republicanos que trabalharam como autoridades de Segurança Nacional em alguns dos cargos de mais alto nível dos Estados Unidos alertaram que Donald Trump "seria o presidente mais imprudente da história americana". Agora eles reaparecem com uma nova carta, assinada por um grupo ainda mais amplo, na qual declaram a sua Presidência pior do que o imaginado, e conclamam os eleitores a apoiarem o ex-vice-presidente Joe Biden.
A nova carta, divulgada poucas horas antes de Biden aceitar formalmente a indicação, repreende ações de Trump em 10 pontos, incluindo acusações de que minou o Estado de Direito, alinhou-se com ditadores e teve “comportamento corrupto que o torna impróprio para servir como presidente”.
As autoridades de segurança também o acusaram de “espalhar desinformação” e “minar os especialistas em saúde pública”, tornando-o “incapaz de liderar durante uma crise nacional”.
— Quando escrevemos em 2016, estávamos alertando contra o voto em Donald Trump, mas muitos dos signatários não estavam prontos para abraçar a sua oponente— disse John Bellinger, ex-consultor jurídico do Departamento de Estado e do Conselho de Segurança Nacional, que estava entre os autores da carta anterior e da atual, em referência a Hillary Clinton. — Agora é diferente: todos os signatários disseram que votarão em Biden. Os signatários estão agora ainda mais preocupados com Trump e têm menos preocupações com Biden.
Eric Edelman, um ex-oficial sênior do Departamento de Defesa sob o presidente George W. Bush, e signatário tanto da velha como da nova carta, observou que os avisos de 2016 eram “um julgamento prospectivo sobre a aptidão de Donald Trump para o cargo".
— Já hoje, as coisas que foram citadas nessas cartas foram justificadas pelo desempenho real de Trump — afirmou.
O resultado, disse ele, foi que novos signatários republicanos juntaram-se, — há mais de 70 na nova carta —, pessoas que “sem dúvida esperavam que Trump crescesse no cargo e levasse a sério as responsabilidades do cargo”.
— Ele não fez isso.
Para a Convenção Nacional Democrata, Biden convidou uma série de republicanos para falar, com destaque para Colin Powell, ex-secretário de Estado e presidente da Junta de Chefes de Estado-Maior. Os democratas estão apostando que esses endossos transversais possam atrair republicanos moderados que podem ter apoiado Trump há quatro anos, mas que estão em dúvida se conseguem votar em um democrata.
“Embora alguns de nós tenhamos posições políticas diferentes das de Joe Biden e de seu partido, o momento de debater essas diferenças políticas virá mais tarde”, diz a nova carta. “Por enquanto, é imperativo que paremos o ataque de Trump aos valores e instituições de nossa nação e restabeleçamos as bases morais de nossa democracia”.
A carta foi divulgada pelo grupo DefendingDemocracyTogether.org, organização da área de defesa criada em 2018 por republicanos e conservadores anti-Trump. Eles estão gastando cerca de US$ 20 milhões para se opor a ele, diz o grupo, incluindo a publicação da carta completa em um anúncio no The Wall Street Journal nesta sexta-feira.
Entre os signatários estão ex-funcionários do governo Reagan; outros que serviram a George Bush e George W. Bush; e alguns, como John Negroponte, ex-diretor de inteligência nacional, e o general Michael Hayden, que serviu como diretor da CIA e da Agência de Segurança Nacional, cujos serviços se estenderam a governos dos dois partidos.
A carta também inclui alguns funcionários de nível médio que serviram sob o comando de Trump. Mas a maioria dos maiores nomes da Segurança Nacional que estiveram no governo e foram demitidos ou renunciaram não está presente. Entre os ausentes estão Rex Tillerson, ex-secretário de Estado, e três ex-generais que serviram em altos cargos: John Kelly, ex-chefe de gabinete; H.R. McMaster, o ex-conselheiro de segurança nacional; e Jim Mattis, ex-secretário de defesa.
John Bolton, que foi demitido como conselheiro de Segurança Nacional no ano passado, disse publicamente que não votaria em Trump, mas se recusou a apoiar Biden, dizendo que em vez disso escreveria o nome de um republicano conservador.
Quando a primeira carta foi publicada em 2016, ela provocou efeito de choque: ninguém conseguia se lembrar quando líderes da área de Segurança Nacional bem estabelecidos rejeitaram o candidato do próprio partido. Hoje, as críticas soam mais familiares. A carta cita mais de três anos de caos internacional e argumenta que Trump "prejudicou gravemente o papel dos Estados Unidos como líderes mundiais", zombando de aliados e solicitando influência estrangeira nas eleições americanas.
Segundo a carta mais recente, Trump "proclamou seu 'amor' e 'grande respeito' pelo homem forte norte-coreano Kim Jong-un, endossou o movimento do 'brilhante líder' Xi Jinping para servir como presidente vitalício da China" e “insistentemente aliou-se a Vladimir Putin contra nossa própria comunidade de inteligência”.
Ainda assim, dentro do sistema de Segurança Nacional republicano, há discussões sobre se tais cartas realmente prejudicam Trump ou o ajudam.
Peter Feaver, um veterano dos governos Clinton e Bush, que ajudou a redigir várias versões da carta de 2016, decidiu não assinar a publicada na quinta-feira.
— Não me arrependo de ter assinado as cartas de 2016 e acho que a nova carta é precisa em sua crítica ao desempenho de Trump — disse Feaver, professor da Duke University, em uma entrevista. — Mas cartas como essa têm algumas consequências não intencionais. Trump conseguiu arrecadar fundos com a carta de 2016 e obteve alguma credibilidade de rua, dizendo-se anti-establishment. A equipe dele até pensou que as cartas eram em geral benéficas para ele.
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