BRASÍLIA — O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse nesta quinta-feira que não tem conversado com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e que a interlocução entre os dois foi encerrada. A fala foi feita em entrevista para a GloboNews instantes depois da Câmara receber oficialmente a reforma administrativa enviada pelo governo.
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— O que eu decido é que a relação da presidência da Câmara será com o ministro Ramos (Luiz Eduardo, ministro da Secretaria de Governo), e o ministro Ramos conversa com a equipe econômica para não criar constrangimento mais para ninguém. Mas isso não vai atrapalhar os nossos trabalhos de forma alguma. A interlocução (com o Guedes) foi encerrada.
Segundo o deputado, Guedes proibiu a equipe econômica de conversar com ele.
— Ontem mesmo a gente tinha um almoço com o Esteves (Conalgo, assessor do Ministério da Economia) e com o secretário do Tesouro (Bruno Funchal) para tratar do Plano Mansueto e os secretários foram proibidos de ir à reunião.
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'Confiança' em Ramos
Maia relatou que tem bom diálogo com o ministro Luiz Eduardo Ramos, encarregado da articulação política do governo e que prefere conversar com ele.
— Agora, eu também não vou deixar de falar as coisas como elas são. Então, eu decidi e comuniquei ao governo que dessa forma prefiro conversar com o ministro Ramos. Eu encaminho o Plano Mansueto, o Pedro Paulo (deputado relator do projeto) vai encaminhar para o Ramos, que vai mandar para equipe econômica que vai dizer se está de acordo ou não. Não vamos fazer nada divergindo radicalmente da equipe. O diálogo pela Segov (Secretaria de Governo) é melhor até porque meu relacionamento com o ministro Ramos é de grande confiança.
‘Como ele (Guedes) não é político ele tem pouca experiência na articulação política’- Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos DeputadosSobre relacionamento direto cortado com o ministro da Economia
Apesar da falta de diálogo direto com Guedes, Maia afirmou que a articulação política para aprovar as reformas não será atrapalhada.
— Não (atrapalha) porque ele não é político. Então, como ele não é político, ele tem pouca experiência na articulação política. O Ricardo Barros (deputado, líder do governo na Câmara) tem muita experiência, o Eduardo Gomes (senador, líder do governo no Congresso) tem muita experiência. Ramos está aprendendo rápido, mas já aprendeu.
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Melhora na relação com Bolsonaro
Contrastando com a piora na relação entre o presidente da Câmara e o ministro da Economia, Maia disse que a relação com o presidente Jair Bolsonaro "tem melhorado muito" desde que o presidente sinalizou com a retomada da agenda de reformas.
— O gesto do presidente, não apenas essa ligação (no dia do anúncio da prorrogação do auxílo emergencial), mas o primeiro café quando disse que mandaria a reforma administrativa. Depois, no Alvorada ele anunciou que ia tratar do tema. Falei após com ele e ele ligou na terça informando que ia mandar. Acho que foi uma decisão corretíssima.
Relação conturbada
A relação entre Guedes e o deputado já sofreu muito abalos desde que o presidente Jair Bolsonaro assumiu o posto. Na época da tramitação da reforma da Previdência, os dois trocaram farpas em discussões sobre a articulação da aprovação da reforma.
No início deste ano, na discussão sobre a reforma administrativa, Guedes comparou servidores públicos a "parasitas". Maia respondeu, sem citar o ministro, que o uso de termos pejorativos atrapalhava a reforma.
Já no começo da crise causada pela pandemia, os dois discordaram sobre as medidas que o governo deveria tomar para enfrentá-la. Enquanto Guedes defendia que avançar nas reformas seria a melhor resposta, Maia defendia a necessidade de outras ações.
Reforma administrativa
Comentando a reforma administrativa, o presidente da Câmara disse acreditar que ela pode ser aprovada ainda em 2020, apesar das restrições causadas pela pandemia na tramitação de projetos na Casa.
Durante esse período, a Câmara tem funcionado apenas com o plenário virtual. As comissões, por onde os projetos usualmente iniciam a tramitação, estão fechadas.
— Vamos precisar fazer um acordo de procedimento, instalando a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), pois tem que ser aprovada. O rito de Proposta de Emenda à Constituição na pandemia pode ser outro, mas tudo pode ser acordado por todos os partidos. Sem acordo tem que seguir o regimento.
A reforma não afeta os funcionários que já trabalham no serviço público, mas segundo Maia, ela não é tímida.
— Tem duas formas de ter economia. Uma seria um litígio muito grande e de difícil prognóstico. A outra é cuidar dos novos servidores, criar um novo modelo, um modelo competindo com o outro e com a certeza que o novo modelo que caminha para meritocracia e eficiência.
Prorrogação do auxílio
Maia avaliou que a prorrogação do auxílio emergencial até dezembro no valor de R$ 300 deve ser aprovada pela Câmara porque o governo tem uma base de apoio.
— Concordo com os motivos do governo federal. Tinha gasto de R$ 50 bilhões, lembrando que Bolsa Família tinha despesa de pouco mais de R$ 2 bilhões por mês. Claro que o Estado não tinha condição de continuar infelizmente o financiando o programa emergencial.
O deputado aproveitou o momento para defender o teto de gastos e a construção de um programa permanente de renda básica.
— Um furinho no teto quebrando os princípios vai ser o dólar subindo, vai ser cada vez mais recursos indo embora do Brasil, então vamos organizar no teto de gastos, o fim da indexação do orçamento, realocar programas.
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