LA PAZ — O ex-presidente boliviano Jorge Quiroga (2001- 2002) anunciou, neste domingo, a retirada de sua candidatura a uma semana das eleições do dia 18. Reconhecendo que não tinha chances de ser eleito, o conservador Quiroga desistiu da disputa buscando evitar que Luis Arce, ex-ministro da Economia e candidato do Movimento ao Socialismo (MAS) do ex-presidente Evo Morales, vença no primeiro turno.
“Não tenho possibilidade de chegar à Presidência”, disse Quiroga. “Pessoas valiosas que me acompanham merecem estar no Parlamento, mas nunca se o custo é que o MAS possa chegar à Presidência no primeiro turno. A possibilidade é ínfima, mas maior que as minhas chances de ser presidente.”
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O ex-presidente, que tinha apenas 1,1% das intenções de voto, segue os passos da atual presidente interina Jeanine Áñez, que anunciou sua desistência em 17 de setembro, faltando um mês para as eleições. Áñez chegou ao governo em novembro do ano passado, ocupando o vácuo de poder deixado por Morales, que renunciou em meio a protestos da oposição, um motim policial e um ultimato dos militares.
Ambos buscam evitar que Arce seja eleito no próximo domingo, apostando que todas as forças de oposição se unam contra o MAS em um provável segundo turno. Uma pesquisa divulgada neste domingo pelo instituto Ciesmori mostra o ex-ministro da Economia com 32,4% dos votos, contra 24,5% do segundo colocado, o ex-presidente Carlos Mesa (2003-2005). Em terceiro, aparece o líder regional de direita, Luis Fernando Camacho, com 10,7%.
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Camacho é seguido pelo pastor evangélico de origem coreana Chi Hyung Chung, com 2,4%. Quiroga aparecia em quarto, com 1,3%. Segundo a sondagem, 13% dos entrevistados não sabe em quem votar, 8,6% preferiu não dizer, 4,8% disse que votará em branco e 1,3%, que anulará seu voto.
Levando em conta apenas os votos válidos (excluindo aqueles que responderam que votariam em branco, nulo ou ainda estão indecisos), Arce aparece com 42,2%, seguido de Mesa, com 33,1% e Camacho, com 16,7%.
Os resultados são similares aos da pesquisa divulgada pela Fundação Jubileo na última sexta. Nela, Arce aparece com 33,6%, contra 26,8% de Mesa e 13,9% de Camacho. O número de indecisos ou dos que votariam em branco ou nulo diminuiu, mas ainda é alto: 21,6%. Em setembro eram 27,5%. Levando em conta apenas os votos válidos, Arce tem 42,9%, frente a 34,2% de Mesa. Camacho aumenta para 17,8%.
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Se os resultados se confirmarem nas urnas, Arce e Mesa devem disputar o segundo turno em 29 de novembro. A Constituição declara vencedor no primeiro turno o candidato que obtiver 50% dos votos mais um ou 40% dos votos com 10 pontos de vantagem sobre o segundo colocado.
As eleições do dia 18 — adiadas três vezes por causa de pandemia — substituem o controverso pleito de outubro de 2019, que gerou protestos que culminaram na renúncia de Morales. No começo da semana, Arce pediu que as Nações Unidas acompanhem as eleições para garantir o respeito aos resultados. Morales também se pronunciou sobre a votação, alegando que a oposição estaria tramando para evitar que seu aliado seja eleito.
No ano passado, uma auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) apontou para uma "manipulação maliciosa" em favor do então presidente, que buscava um quarto mandato. O relatório, no entanto, foi contestado por vários espeacialistas nos meses seguintes. Na semana passada, o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, lembrou as irregularidades e defendeu um processo pacífico que daria aos bolivianos um presidente "democraticamente eleito e legítimo".
Uma nova missão da organização começou seus trabalhos neste fim de semana. Os integrantes da missão começaram a chegar a La Paz de forma escalonada a partir de sábado, embora o grupo, formado por 40 especialistas e observadores de 12 nacionalidades, também trabalhe remotamente devido à pandemia da Covid-19.
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