RIO — A pandemia que já tirou mais de 20 mil vidas no Estado do Rio também impediu que muitos cariocas visitassem os túmulos de seus parentes e amigos nesta segunda-feira, Dia de Finados. Os cemitérios São Francisco Xavier e da Penitência, ambos no Caju, receberam apenas 10% da média de público dos últimos anos. Já o número de pessoas que estiveram no São João Batista, em Botafogo, e no de Inhaúma ficou em 50% do esperado.
Nos grandes cemitérios do Rio, havia medição de temperatura e álcool em gel disponível, além de ser obrigatório o uso de máscaras. Mesmo assim, muitos desrespeitaram as regras sanitárias. O arcebispo do Rio, cardeal Dom Orani Tempesta, celebrou uma missa no Cemitério da Penitência, com a presença de 50 pessoas que perderam parentes recentemente. Ele inaugurou ainda duas obras em homenagem às vítimas da Covid-19: a Chama da Esperança e o Jardim in Memoriam.
— Esse é um dia em que temos que ser solidários com tantas pessoas que sofrem neste ano: as famílias que perderam seus entes queridos, que não puderam fazer o velório e entregá-los a Deus — disse o arcebispo.
A empresária Vera Lúcia Neves, de 54 anos, que perdeu a mãe para a Covid-19, assistiu à cerimônia. Ela também teve a oportunidade de visitar o túmulo.
— Foi uma angústia e uma tristeza muito grande não poder fazer nada por minha mãe em seus últimos dias. Não pudemos cuidar, estar com ela no hospital ou até mesmo lhe dar um funeral digno — contou.
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‘Ainda me sinto preso’
Gisele Matuque Diniz Peixoto, de 55 anos, juíza esportiva, também foi ao cemitério para mostrar carinho por seu pai, de 81, outra vítima do novo coronavírus:
— Essa homenagem me faz sentir mais leve, me faz ter uma conexão com o meu pai novamente.
O Cemitério da Penitência recebeu duas mil pessoas ontem, enquanto o Caju, 30 mil dos 300 mil esperados. Dez mil visitantes — a metade do público do Dia de Finados de 2019 — estiveram no Jardim da Saudade, de Sulacap, onde pétalas foram lançadas do alto de um balão em formato de coração. Parentes de mortos também foram recebidos por músicas interpretadas por um dueto. Um deles era o violoncelista Luiz Carlos da Costa Justino, de 23 anos, que ficou cinco dias preso por engano, em setembro.
— Eu ainda me sinto preso. Não consigo ser aquela pessoa divertida, livre. Só me sinto seguro em casa. Ainda tenho pesadelos. Não consigo mais dormir com tudo apagado, porque lembro das quatro paredes daquele lugar escuro. Até para tocar tem sido ruim, porque exige concentração — disse o jovem, ao lado do tio, o violinista Leandro Justino.
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