O veterano correspondente britânico Robert Fisk, um dos nomes mais conhecidos do jornalismo mundial, morreu neste fim de semana em Dublin, na Irlanda, aos 74 anos.
Fisk, que tinha uma coluna no jornal The Independent, para o qual trabalhava desde 1989, falava árabe fluentemente e ficou baseado durante décadas em Beirute, no Líbano, para onde se mudou em 1976.
Ele cobriu, entre outros eventos históricos, a Guerra Civil Libanesa, entre 1975 e 1990; a Revolução Islâmica no Irã, em 1979; a invasão russa do Afeganistão, em 1979; a Guerra Irã-Iraque, entre 1980 e 1988; e a chamada “guerra ao terror” americana depois dos atentados do 11 de Setembro de 2001, com as invasões do Afeganistão, naquele mesmo ano, e do Iraque, em 2003. Mais recentemente, fez a cobertura da guerra civil na Síria e das tensões entre EUA e Irã após o assassinato pelo governo americano do general iraniano Qassem Soleimani, em janeiro deste ano.
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Nos anos 1990, Fisk foi um dos primeiros jornalistas a entrevistar o saudita Osama bin Laden, fundador da al-Qaeda. Seu olhar crítico sobre as intervenções ocidentais, e também a russa, no Oriente Médio e na Ásia Central foi mal visto, em especial nos Estados Unidos, depois que redes terroristas jihadistas intensificaram sua atuação global no início deste século. Fisk também era um crítico implacável da ocupação israelense dos territórios palestinos.
No livro “A grande guerra pela civilização”, de 2005, publicado no Brasil, ele refaz, baseado em suas reportagens, o histórico da conflituosa interação entre as potências ocidentais e as populações e líderes do Oriente Médio, do Norte da África e da Ásia Central desde o fim do Império Otomano, passando pelo massacre dos armênios na Turquia e a guerra dos argelinos pela independência da França.
Seu livro sobre a História do Líbano, “Pobre nação”, também foi publicado no Brasil.
De acordo com o jornal Irish Times, Fisk sofreu um acidente vascular cerebral na sexta-feira. Chegou a ser internado, mas não resistiu. Sua última coluna no Independent foi publicada em 8 de outubro, e analisava o acordo de normalização das relações entre a Sérvia e Israel, intermediado pelo presidente americano Donald Trump.
Fisk ganhou prêmios de prestígio por sua cobertura do Oriente Médio, incluindo o Prêmio Orwell de Jornalismo e vários British Press Awards nas categorias de repórter internacional do ano e repórter estrangeiro do ano.
O jornalista tinha uma relação forte com a Irlanda desde que cobriu, no início da carreira, os conflitos entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte, e, além de ter uma casa em Dublin, fez doutorado no Trinity College.
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Robert Fisk era cético a respeito do que considerava um fascínio do jornalismo pelo poder. “Não deveríamos deixar nossos jornalistas ou nossos presidentes ou nossos primeiros-ministros nos dizerem o que é História e o que não é”, disse ele em entrevista à Folha de S. Paulo em 2007, quando veio ao Brasil para participar da Feira Literária Internacional de Parati.
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