Mais de 30 pesquisadores que assinam plano nacional de vacinação não tiveram acesso ao documento

RIO - Trinta e um elaboradores do Plano Nacional de Vacinação divulgaram este sábado uma nota protestando por sua falta de acesso a versão final do documento, que foi entregue horas pelo governo federal ao STF.

A equipe independente de pesquisadores, que representam diversas instituições da área de saúde, integravam o grupo técnico que estuda a situação epidemiológica e os grupos prioritários para vacinação contra a Covid-19.

"Nos causou surpresa e estranheza que o documento no qual constam os nomes dos pesquisadores deste grupo técnico não nos foi apresentado anteriormente e não obteve nossa anuência", ressaltam os cientistas. "Importante destacar que o grupo técnico havia solicitado reunião e manifestado preocupação pela retirada de grupos prioritários e pela não inclusão de todas as vacinas disponíveis que se mostrarem seguras e eficazes".

Os pesquisadores já haviam manifestado incômodo quando o governo federal decidiu retirar a população privada de liberdade dos grupos prioritários para vacinação.

Da mesma forma, também manifestaram incômodo com as respostas evasivas sobre a adoção do imunizante CoronaVac, desenvolvido pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. A vacina está no epicentro de uma disputa política entre o governador paulista João Doria (PSDB) e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Doria quer inaugurar o calendário de vacinação da CoronaVac no dia 25 de janeiro. A vacina, porém, ainda não conta com o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Tampouco é mencionada no Plano Nacional de Vacinação.

— É uma situação política desastrosa — lamenta a epidemiologista Ethel Maciel, integrante do grupo de trabalho. — Conhecemos o Programa Nacional de Imunizações e sua capacidade para fazer campanhas bem sucedidas. Mas agora há uma crise política que pode culminar na adoção de vacinas em apenas alguns estados, enquanto outros, mais pobres, não terão acesso a imunização.

Segundo o documento, 51,4 milhões de pessoas podem ser imunização contra a Covid-19 no primeiro semestre de 2021. O texto, porém, não apresenta uma data para o início do trabalho.

Escalada da pandemia:Brasil registra média móvel de 43.414 casos de Covid-19, a maior em 117 dias

O documento confirma a manutenção dos grupos prioritários informados durante a semana pela pasta, mas não apresenta uma data para o início da vacinação dos integrantes desses grupos, que incluem profissionais de saúde e idosos, entre outros.

O plano menciona que o Brasil já tem acordos para a aquisição de100,4 milhões de doses do imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford, AstraZeneca e a Fiocruz a serem entregues até julho de 2021, além de mais 30 milhões de doses no segundo semestre. Também é informada a aquisição de 42,5 milhões de doses por meio da iniciativa Covax Facility. E ainda está na conta, como "em negociação", 70 milhões da Pfizer.

A primeira fase contemplará trabalhadores de saúde, idosos acima de 75 anos, idosos com mais de 60 anos que estejam em asilos e população indígena. Esse público é estimado em 14 milhões de pessoas.

Nos EUA:'Ciência e dados guiaram a decisão', afirma chefe da FDA, após autorização emergencial de vacina nos EUA

Na segunda fase estão pessoas de 60 a 74 anos, que somariam 21,3 milhões. A terceira é voltada a pessoas com comorbidades, uma população estimada em 12,6 milhões. A quarta fase contempla professores, trabalhadores de forças de segurança e salvamento e funcionários do sistema prisional, público de 3,3 milhões.

No plano, o governo conta que para atender a essa população precisa de 108,3 milhões de unidades de imunizante, levando em conta a aplicação em duas doses e o cálculo de vacinas que acabam sendo desperdiçadas no processo.

Pandemia na Ásia:Japão e Coreia do Sul batem recordes de novos casos de coronavírus em um único dia

O plano traz como contraindicação a aplicação do imunizante em menores de 18 anos de idade, bem como em gestantes, além de pessoas que tenham reação alérgica a qualquer componente da vacina.

Uma solução tecnológica está em desenvolvimento pelo Datasus em busca de controlar e monitorar o grupo que será vacinado. A ideia é que seja disponibilizado um QR-Code para quem integra o público-alvo no aplicativo Conecte SUS para fazer a identificação, mas o documento ressalta que não se deixará de vacinar quem não tiver este código.

Enregistrer un commentaire

0 Commentaires