BRASÍLIA — Diante da queixa do presidente Jair Bolsonaro sobre a pressão que o governo federal sofre por estar atrás de dezenas de países na vacinação contra a Covid-19, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, errou na matemática e disse nesta quinta-feira que o Brasil pode se tornar o líder em número de vacinados no mundo até o final deste mês, com duas, seis ou oito milhões de doses.
Ele ainda minimizou o montante total de vacinas aplicadas em todos os países à população da cidade de São Paulo, quando, na verdade, o número é quase três vezes maior. As declarações foram feitas em transmissão ao vivo na internet, ao lado de Bolsonaro, que perguntou se ele sabia dos números de vacinas no mundo.
De acordo com levantamento do projeto "Our World in Data", ligado à Universidade de Oxford, até esta quinta-feira 32,8 milhões de doses já haviam sido aplicadas, sendo 11,15 milhões delas nos Estados Unidos e 10 milhões na China. Para Pazuello, o número total é "muito pouco".
— Hoje, claro que os Estados Unidos é o mais forte. A última vez que eu vi o quadro estava entre seis e sete milhões de pessoas, de vacinados — declarou o ministro, ouvindo do presidente que o país norte-americano tem mais de 300 milhões habitantes e esta quantidade representaria cerca de 2% — É muito pouco. Somando todas as vacinas do mundo, China, Estados Unidos e todos os países é a cidade de São Paulo. No mundo — complementou Pazuello.
O ministro afirmou ainda que é preciso compreender que há uma estratégia do governo federal com o Sistema Único de Saúde (SUS), que já foi desenhada há seis meses, e que o Brasil está "na cronologia correta dessa estratégia".
— E nós vamos em janeiro iniciar essa vacinação. E, a partir do início, com duas, seis ou oito milhões de doses já em janeiro, nós já vamos nos tornar o segundo, talvez o primeiro, dependendo dos Estados Unidos, país que mais vacinou no mundo. Apenas talvez atrás dos Estados Unidos ao final de janeiro.
Ele então fez uma promessa mais ousada para o mês que vem, que colocaria o Brasil na liderança isolada no mundo:
— E quando nós entrarmos em fevereiro com a nossa produção em larga escala e com o nosso PNI [Programa Nacional de Imunizações], que tem 45 anos, nós vamos ultrapassar todo mundo, inclusive os Estados Unidos.
Em seguida, o presidente Bolsonaro fez um pedido aos espectadores ao comentar que alguns reclamam que o Brasil está atrasado e o governo não tomou providência para a vacinação:
— Calma.
Ele também justificou por que laboratórios e fabricantes de vacinas não procuraram o país, "um mercado aqui de 210 milhões de pessoas", apesar de procurarem os "grandes centros" como o Brasil. E classificou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária como um "obstáculo para o bem".
— Agora, por que não vieram? Porque reconhecem que a Anvisa é um obstáculo para o bem. Aqui não é uma republiqueta, o cara vai checar aqui, vai fazer uma negociata e o pessoal da agência lá "toca o barco, quantos bilhões é, vamos comprar, não interessa o preço, não sei o quê, tudo justifica, não tem licitação". Não é assim que funciona — declarou Bolsonaro.
Bolsonaro comentou ainda que a Anvisa vai decidir no próximo domingo sobre os pedidos de autorização uso emergencial das vacinas submetidas ao órgão. A data é o penúltimo dia do prazo estabelecido pela agência para avaliação dos pedidos.
— Não é atraso meu, do governo, nem da Anvisa. A Anvisa deve, até depois de amanhã, domingo, apresentar seu relatório no tocante a aceitar ou não, certificar ou não, três vacinas, não é isso? Duas vacinas que lá estão sendo analisadas. Olha a responsabilidade da Anvisa. Se eles não certificam, e vai que é uma coisa boa, outro país pode certificar, e vai que ele certifique e não seja uma coisa boa. Então, é uma tremenda responsabilidade.
Já Pazuello disse querer muito que "isso dê certo" para que o governo possa vacinar o país, "independentemente de qual seja esta vacina".
— É a Anvisa que tem que nos proteger e nos dizer qual o melhor caminho — comentou o ministro.
Até o momento, apenas a Fiocruz e o Instituto Butantan solicitaram a autorização emergencial de uso para suas vacinas, a de Oxford e a CoronaVac, respectivamente. Nesta quinta, a agência enviou ofícios a ambas cobrando o fornecimento de dados pendentes para análise do órgão. Em nota, a Anvisa indicou que o prazo de dez dias, previsto inicialmente, poderá ser estendido caso não haja entregas das informações.
O titular da Saúde foi questionado durante a live sobre a taxa de eficácia geral da CoronaVac, de 50,38%, e disse não ver problemas com o valor, citando a "regra clara" da eficácia mínima, de 50%, e "o que a vacina pode nos dar de positivo".
— A vacina do Butantan vai ser muito importante, se aprovada pela Anvisa, porque ela vai nos trazer a tranquilidade também de não agravar a doença. Ou seja, as pessoas que tomarem a vacina pelo menos não terão a
doença agravada, não cairão numa UTI ou num respirador. Se nós conseguirmos compreender que a estratégia de vacinação visa segurar a pandemia como um todo e não a busca por 100% da vacinação de todas as pessoas, e sim na hora que a pandemia reduzir e voltar ao normal você vai vacinando grupos específicos para manter a pandemia sob controle — declarou Pazuello.
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