Aliado de Rafael Correa sai na frente, mas boca de urna aponta segundo turno no Equador

QUITO - Pesquisas de boca de urna divulgadas na noite deste domingo apontam que Andrés Arauz, jovem economista de esquerda aliado do ex-presidente Rafael Correa, saiu na frente no primeiro turno da eleição presidencial do Equador, celebrada neste domingo. Segundo a pesquisa do instituto Clima Social, ele teve 36,2% dos votos.

Ainda é incerto, contudo, quem deve ser o seu adversário. Nas pesquisas boca de urna, o ex-banqueiro de centro-direita Guillermo Lasso, de 65 anos, foi o segundo colocado — para o Instituto Clima Social, teve 21,7%. Já a pesquisa da Cedatos aponta Arauz com 34,9% e Lasso com 20,99%.

Tão logo começaram as contagens parciais, no entanto, o candidato indígena Yaku Pérez, que se alinha com a esquerda que se opõe ao correísmo e estava em terceiro na boca de urna (16,7% no Clima Social), apareceu em segundo na apuração.

Com 7,28% das urnas apuradas, Andrés Arauz tem 32,95%, Yaku Pérez 19,62%, Guillermo Lasso 19,20% e Xavier Hervas, que se apresenta como uma centro-esquerda mais moderada que o correísmo, 15,16%.

O Equador tem histórico de erros de pesquisa de boca de urna e é incerto quem entre Pérez e Lasso deve avançar.

Para obter a Presidência no primeiro turno no Equador, um candidato precisa da metade mais um dos votos válidos, ou pelo menos 40% com uma diferença de dez pontos acima do segundo colocado.

A participação eleitoral no país ocorreu, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), em “termos normais”, apesar das restrições causadas pela Covid-19. Filas de eleitores, que em alguns casos se estendiam por vários quarteirões, obrigaram as autoridades eleitorais a pedirem o relaxamento das restrições impostas pela pandemia à entrada em zonas de votação, vigiadas por militares e policiais.

O segundo turno está marcado para 11 de abril. Cerca de 13 milhões de eleitores, no país de 17 milhões de habitantes, estão aptos a designar o sucessor do impopular presidente Lenín Moreno, que não busca a reeleição e cujo mandato termina em 24 de maio. Eleito com apoio de Correa, Moreno rompeu com o antigo aliado.

Favorito para vencer, Arauz, de 35 anos, foi ministro de Coordenação de Conhecimento e Talento Humano de Rafael Correa, que governou de 2007 a 2017. Também ocupou cargos no Banco Central e integrou a equipe econômica daquele governo. Seu projeto, alinhado com o pensamento do ex-presidente, prevê um Estado grande e presente, renegociação da dívida pública e aproximação internacional com a China. O economista diz que Correa será seu assessor externo e nega acusações de opositores sobre planos para acabar com a dolarização.

"Ganhamos! Um triunfo contundente em todas as regiões de nosso belo país. Nossa vitória é de 2 a 1 contra o banqueiro. Parabéns ao povo equatoriano por esta festa democrática. Vamos aguardar os resultados oficiais para comemorar", disse Arauz após o resultado da pesquisa boca de urna numa rede social.

Em um discurso posterior, ele acrescentou acreditar que a margem final "será mais ampla" do que a detectada pelas pesquisas, e que acredita em vitória ainda no primeiro turno, confiando no chamado "voto escondido" e depositado no exterior.

— A amplitude da vitória nos dá muita tranquilidade — disse.

Já Lasso, candidato do movimento Creo e do Partido Social Cristão, representa a opção conservadora e de centro-direita. Empresário, banqueiro e político, disputa pela terceira vez a Presidência do país. Foi derrotado em 2013 por Correa, e em 2017 passou para o segundo turno, perdendo por 48,8% contra 51,6% obtidos por presidente Moreno — então candidato de Correa. Promove uma agenda neoliberal de economia aberta, privatizações e redução do Estado.

— O que posso dizer é que haverá um segundo turno e nós estaremos no segundo turno — disse Lasso após a votação em Guayaquil.

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Em meio à dipsura, Pérez aparece como uma opção indígena e ambientalista de esquerda. Lasso já avisou que, caso Pérez avance contra Arauz, irá apoiá-lo. O líder indígena não declarou oficialmente se retornará o apoio, mas alguns analistas consideram isto provável.

Na cidade andina de Cuenca, no Sul, onde ele votou, foi realizada uma consulta popular paralela para decidir a liberação ou não da exploração de metais em nível industrial nas proximidades de cinco rios. Ainda não foi divulgado o resultado desta consulta.

— Temos a oportunidade de enterrar a corrupção do correísmo e do morenismo expressa no senhor Arauz e no senhor Lasso — disse Pérez, do partido indígena Pachakutik, em um vídeo postado no Twitter.

Uma vitória de Arauz se somaria ao retorno de políticas de esquerda na América Latina, como ocorreu na Argentina e na Bolívia, e representaria um desafio para o governo dos Estados Unidos em seu duelo com a China por influência no continente. O Equador sofreu um surto brutal de coronavírus no ano passado, que deixou corpos acumulados pelas ruas de sua maior cidade, Guayaquil.

Além disso, medidas de isolamento atingiram ainda mais a economia, que já sofria com os baixos preços do petróleo, responsável por 44% do PIB. Moreno promoveu uma agenda pró-mercado na esperança de ressuscitar uma economia de crescimento lento e altamente endividada, mas que foi fortemente rechaçada pela população. Em 2019, houve 10 dias de protestos violentos contra a retirada de subsídios aos combustíveis.

O empresário e engenheiro ambiental Xavier Hervas, que se apresenta como uma esquerda mais moderada que Arauz, tem 13% na pesquisa do instituto Clima Social.

O clima "está muito dividido", disse Sebastian Amaguaya, um pedreiro de 23 anos, à AFP, após votar em Quito. Ele estava confiante de que "finalmente um presidente que não seja corrupto seja eleito".

As eleições também decidirão os 137 membros da Assembleia Nacional, mas, devido à fragmentação das forças políticas, não se espera que nenhum partido consiga maioria.

— Quem vencer terá um mandato fraco e precisará buscar formar uma coalizão — disse à AFP o cientista político Estebán Nichols, da Universidade Andina Simón Bolívar.

Correa, que mora na Bélgica desde 2017, tentou ser o candidato a vice de Arauz, mas foi impedido pela Justiça Eleitoral por enfrentar uma ordem de prisão depois de ser condenado em 2020 a oito anos, sob a acusação de corrupção.

A única candidata mulher é Ximena Peña, que representa o enfraquecido partido no poder, o Aliança País, antiga formação de Correa.

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