Apuração aponta segundo turno entre aliado de Rafael Correa e líder indígena no Equador

QUITO - A apuração rápida do Equador, processo de contagem feito para indicar o resultado da eleição, sem valor oficial, aponta que Andrés Arauz, jovem economista de esquerda aliado do ex-presidente Rafael Correa, deve enfrentar o líder indígenas Yaku Pérez, que opõe ao correísmo, no segundo turno. A diferença entre Pérez e o terceiro colocado, Guillermo Lasso, de centro-direita, contudo, é muito pequena, e o resultado não foi oficializado.

Com 90% das urnas incluídas na contagem rápida, Arauz tem 31,5%, Pérez tem 20,04% e Lasso tem 19,97%.

No resultado oficial, Com 8,23% das urnas apuradas, Andrés Arauz tem 32,75%, Yaku Pérez, 19,54%, Guillermo Lasso,19,34% e Xavier Hervas, que se apresenta como uma centro-esquerda mais moderada que o correísmo, 15,23%.

Se confirmada a segunda posição de Pérez, o resultado será uma surpresa, que contraria a maioria das pesquisas. Lasso já indicou que apoiará o líder indígena no segundo turno, que pode apresentar uma alternativa de centro-esquerda e ecológica ao correísmo.

Até este domingo considerado favorito para vencer, Arauz, de 35 anos, foi ministro de Coordenação de Conhecimento e Talento Humano de Rafael Correa, que governou de 2007 a 2017. Também ocupou cargos no Banco Central e integrou a equipe econômica daquele governo. Seu projeto, alinhado com o pensamento do ex-presidente, prevê um Estado grande e presente, renegociação da dívida pública e aproximação internacional com a China. O economista diz que Correa será seu assessor externo e nega acusações de opositores sobre planos para acabar com a dolarização.

Em um discurso após a pesquisa boca de urna, que o apontava com até 36% dos votos, ele disse acreditar que a margem final "será mais ampla" do que a detectada pelas pesquisas, e que confiava em vitória ainda no primeiro turno, confiando no chamado "voto escondido" e depositado no exterior. Para um candidato vencer no primeiro turno no Equador, precisa ter ou mais de 50%, ou 40% e mais de 10% de vantagem sobre o segundo colocado.

— A amplitude da vitória nos dá muita tranquilidade — disse.

A apuração, contudo, mostrou o contrário, Pérez indo ao segundo turno. Candidato do movimento indígena Pachakutik, ele foi presidente da Confederação de Povos Indígenas Ecuarunar e governador da província de Azuay. Declara-se opositor de Correa e do atual presidente, Lenin Moreno, e se define como representante de uma esquerda “ecológica e comunitária”.

Na cidade andina de Cuenca, no Sul, onde Pérez votou, foi realizada uma consulta popular paralela para decidir a liberação ou não da exploração de metais em nível industrial nas proximidades de cinco rios. Ainda não foi divulgado o resultado desta consulta.

— Temos a oportunidade de enterrar a corrupção do correísmo e do morenismo expressa no senhor Arauz e no senhor Lasso — disse Pérez, do partido indígena Pachakutik, em um vídeo postado no Twitter.

Mais tarde, Pérez pôs em dúvida as pesquisas de boca de urna:

—As pesquisas de boca de urna operam em função dos interesses do foragido [Correa] e do banqueiro. Somos a segunda força política do país e depois do segundo turno seremos a primeira — disse, em uma referência ao exílio do ex-presidente na Bélgica e sua impossibilidade de voltar ao país, onde foi condenado a oito anos em um processo por corrupção.

Já Lasso, candidato do movimento Creo e do Partido Social Cristão, representa a opção conservadora e de centro-direita. Empresário, banqueiro e político, disputa pela terceira vez a Presidência do país. Foi derrotado em 2013 por Correa, e em 2017 passou para o segundo turno, perdendo por 48,8% contra 51,6% obtidos pelo presidente Lenín Moreno — então candidato de Correa. Promove uma agenda neoliberal de economia aberta, privatizações e redução do Estado.

— O que posso dizer é que haverá um segundo turno e nós estaremos no segundo turno — disse Lasso após a votação em Guayaquil.

Entenda:A ruptura de Lenin Moreno com Rafael Correa

A participação eleitoral ocorreu, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), em “termos normais”, apesar das restrições causadas pela Covid-19. A participação foi de 76%, apenas um pouco abaixo dos 80% da última eleição presidencial. Filas de eleitores, que em alguns casos se estendiam por vários quarteirões, obrigaram as autoridades eleitorais a pedirem o relaxamento das restrições impostas pela pandemia à entrada em zonas de votação, vigiadas por militares e policiais.

O segundo turno está marcado para 11 de abril. Cerca de 13 milhões de eleitores, no país de 17 milhões de habitantes, estão aptos a designar o sucessor do impopular Lenín Moreno, que não busca a reeleição e cujo mandato termina em 24 de maio. Eleito com apoio de Correa, Moreno rompeu com o antigo aliado.

Uma vitória de Arauz se somaria ao retorno de políticas da esquerda nacionalista na América Latina, como ocorreu na Argentina e na Bolívia, e representaria um desafio para o governo dos Estados Unidos em seu duelo com a China por influência no continente. O Equador sofreu um surto brutal de coronavírus no ano passado, que deixou corpos acumulados pelas ruas de sua maior cidade, Guayaquil.

Além disso, medidas de isolamento atingiram ainda mais a economia, que já sofria com os baixos preços do petróleo, responsável por 44% do PIB. Moreno promoveu uma agenda pró-mercado na esperança de ressuscitar uma economia de crescimento lento e altamente endividada, mas que foi fortemente rechaçada pela população. Em 2019, houve 10 dias de protestos violentos contra a retirada de subsídios aos combustíveis.

O clima "está muito dividido", disse Sebastian Amaguaya, um pedreiro de 23 anos, à AFP, após votar em Quito. Ele estava confiante de que "finalmente um presidente que não seja corrupto seja eleito".

As eleições também decidirão os 137 membros da Assembleia Nacional, mas, devido à fragmentação das forças políticas, não se espera que nenhum partido consiga maioria.

— Quem vencer terá um mandato fraco e precisará buscar formar uma coalizão — disse à AFP o cientista político Estebán Nichols, da Universidade Andina Simón Bolívar.

Correa, que mora na Bélgica desde 2017, tentou ser o candidato a vice de Arauz, mas foi impedido pela Justiça Eleitoral por enfrentar uma ordem de prisão depois de ser condenado em 2020.

Dos 16 candidatos, a única mulher é Ximena Peña, que representa o enfraquecido partido no poder, o Aliança País, antiga formação de Correa.

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