Um filme que retrata bem o que é envelhecer é “Onde os Fracos Não Têm Vez” (no original em inglês, “No Country For Old Men”). Nele, o veterano xerife interpretado por Tommy Lee Jones lida com a violência de novas gangues, com novos matadores em sua jurisdição, e percebe que já não dava mais conta da geração vinda depois dele.
É neste processo natural, mas nem sempre fácil, em que os mais jovens começam a superar os mais antigos, que se encontram Vanderlei Luxemburgo e Abel Braga. Hoje, eles se enfrentam às 16h, à frente de Vasco e Internacional, atrás de resultados que podem determinar até quando poderão adiar uma inevitável aposentadoria.
Estar onde estão, na idade que possuem — 68 anos —, já é um feito. Em média, os técnicos campeões brasileiros já aposentados, e que não pararam por motivo de morte ou doença, comandaram um time da Série A pela última vez aos 65 anos. Luxa e Abel, ambos à beira dos 70, seguem relevantes, um tentando manter o Vasco na Série A, o outro atrás do quarto título brasileiro do Internacional.
escudeiros ajudam
Com o tempo, eles encontraram maneiras de prolongar as carreiras. O trabalho em campo, sempre cansativo, é em parte terceirizado. Luxemburgo tem no auxiliar Maurício Copertino uma voz ativa para trazer ideias novas e comandar atividades táticas. Abel segue com o fiel escudeiro Leomir há décadas, mas tem na figura de um analista de desempenho, Alex da Costa, o toque de modernidade no Inter.
Para o ex-técnico Evaristo de Macedo, hoje aos 87 anos, e que teve seu último trabalho na Série A aos 73, nada é capaz de manter o treinador mais atual do que as vitórias:
— Só os bons resultados alongam sua carreira. E depois de uma certa idade, se eles não vêm, começam a fazer questionamentos se você não está velho. Para mim, a cobrança é maior em cima do treinador de mais idade.
Aposentar-se não significa obrigatoriamente abdicar do futebol. Muitos seguem a carreira como comentaristas, outros permanecem ainda mais próximos da antiga profissão, como gestores. Foi o caso de Antônio Lopes. Seu último trabalho à frente de uma equipe foi aos 70 anos. Hoje, aos 79, vem de uma passagem curta como coordenador técnico do Vasco em 2020.
A decisão de parar, para o ex-técnico, campeão por Vasco e Inter, veio naturalmente, ao virar setentão:
— Eu ainda tinha oportunidade de continuar, mas resolvi dar a vez para os mais novos.
Antônio Lopes enxerga Luxemburgo e Abel com ao menos mais dois anos como técnicos:
— Sempre avaliei a competência pelos títulos e isso eles têm, muitos. Deveriam continuar, pelo menos, até os 70 anos, como eu.
Nem sempre a escolha de parar parte do técnico. Às vezes, a falta de bons convites aposenta o veterano ainda em busca de trabalho — é a dureza de um mundo dominado pelos mais jovens obrigando o velho xerife a se aposentar. Na reta final de duas carreiras vitoriosas, talvez Vanderlei Luxemburgo e Abel Braga estejam em busca justamente dessa autonomia, de terem a condição de dizer, quando quiserem, que chegou o momento de pendurar as pranchetas.
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