BRASÍLIA - O chanceler Carlos França pretende trocar, até o próximo mês de julho, o comando da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), braço de estudos e debates do Itamaraty que, segundo queixas de colegas e críticos ao governo, acabou se transformando em reduto de olavistas e influenciadores digitais de extrema direita durante a pandemia de coronavírus. O nome mais cotado para assumir a presidência da instituição no lugar de Roberto Goidanich é o da embaixadora Márcia Loureiro, do consulado do Brasil em Los Angeles.
Segundo uma fonte do governo, a presença de Goidanich à frente da Funag se tornou insustentável. O atual presidente da fundação foi colocado no cargo pelo ex-chanceler Ernesto Araújo.
Já Márcia Loureiro foi assessora internacional do Ministério da Justiça, na gestão do então ministro Alexandre de Moraes, hoje no Supremo Tribunal Federal (STF). É tida por pessoas com as quais trabalhou como "uma colega séria e respeitada". Márcia é casada com outro diplomata, já aposentado, Maurício Cortes.
De acordo com outro integrante do governo ouvido pelo GLOBO, França quer que a Funag volte a ser um fórum de debate de diplomatas. Tradicionalmente, a presidência do órgão, que cumpre o papel de think tank governamental, era ocupada por um diplomata avançado na carreira. Assim, disse essa fonte, o órgão deixará de ser um palco para a promoção de transmissões no YoutTube e eventos ministrados por expoentes do bolsonarismo.
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Na gestão de Ernesto Araújo, a Funag deu espaço a blogueiros, militantes e colunistas a favor do governo federal, acusados de promover ideias anticientíficas e de teor doutrinário e ideológico nos seminários que eram realizados na Fundação. No ano passado, houve uma palestra denominada "A nocividade do uso de máscaras", que acabou sendo removida pelo YouTube por disseminar informações falsas. Em outras conferências, palestrantes compararam medidas de distanciamento social aos gulags de Stalin.
A troca de comando na Funag é mais um movimento de Carlos França no sentido de marcar diferenças em relação a seu antecessor.
No primeiro evento público do qual participou como chanceler, em uma audiência na Câmara, França disse que Filipe Martins, assessor internacional do Planalto e expoente do olavismo no governo, é subordinado ao almirante Flavio Rocha, secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Com isso, deixou claro aos parlamentares que Martins não tem mais a mesma influência de antes sobre o Itamaraty.
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Ao contrário de Ernesto, que rompeu as relações com o embaixador chinês em Brasília, Yang Wanming, após sair em defesa de Eduardo Bolsonaro, Carlos França conversa com frequência com o diplomata. Apesar da clara postura anti-Pequim de Jair Bolsonaro, que pode atrapalhar o processo de liberação para o Brasil de insumos para vacinas contra a Covi-19, França sempre mantém um tom amigável ao falar sobre o país asiático e costuma apagar incêndios para não afetar o humor dos chineses.
Pelo menos no momento, não houve mudança na política externa brasileira em relação ao regime do venezuelano de Nicolas Maduro. Porém, França não chama mais o chavista de narcoditador, por exemplo, como fazia Ernesto, embora continue defendendo uma negociação entre Maduro e oposição para que "haja eleições livres e a volta da democracia", conforme resumiu uma fonte.
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