Assim como China e Rússia, Brasil não envia chanceler para primeira reunião presencial do G20 em dois anos

TERA, Itália - O Brasil teve o mesmo comportamento de China e de Rússia e não enviou seu chanceler para a primeira reunião presencial em dois anos de ministros das Relações Exteriores dos países do G20, realizada nesta terça-feira na Itália.

O encontro de um dia na cidade de Matera, ao Sul do da Itália, enfocou como melhorar a cooperação e revitalizar a economia mundial após a pandemia e como impulsionar o desenvolvimento sustentável na África.

Os membros do G20 representam mais de 80% do Produto Interno Bruto mundial, 75% do comércio global e 60% da população do planeta. Os principais diplomatas dos Estados Unidos, Japão, Reino Unido, França, Alemanha e Índia estavam na Itália.

Apesar disso, os chanceleres de Brasil, China, e Austrália optaram por acompanhar as discussões por videoconferência, enquanto Rússia e Coréia do Sul enviaram seus vice-ministros.

Os chanceleres dos países do G20 defenderam o multilateralismo para enfrentar crises globais como a pandemia de Covid-19 e a emergência climática.

— A pandemia destacou a necessidade de uma resposta internacional às emergências que transcendem as fronteiras nacionais — disse o ministro italiano das Relações Exteriores, Luigi Di Maio, aos seus homólogos do Grupo das 20 maiores economias.

Segundo comunicado do Itamaraty, o ministro Carlos França participou de três reuniões multilaterais nas quais “salientou a necessidade de reformar os sistemas internacionais para melhor responder à crise atual e para que estejam preparados para enfrentar, com maior eficiência e transparência, desafios futuros, inclusive em saúde e comércio internacional”.

O ministério disponibilizou a íntegra das três intervenções do ministro, todas de caráter pragmático, com agudo contraste em comparação aos discursos de forte caráter ideológico do mandato de seu antecessor Ernesto Araújo. Em uma reunião com ministro do Desenvolvimento, França mencionou em caráter elogioso a cooperação entre países Sul- Sul e medidas de desenvolvimento sustentável.

"Trabalhos de 'ampliação da emissão de títulos verdes, sociais e de sustentabilidade em países em desenvolvimento' são muito promissores, pois podem ajudar a mobilizar recursos adicionais, com perspectivas de longo prazo e em alinhamento com objetivos sociais, econômicos, ambientais e climáticos", disse França, segundo transcrição disponibilizada no site do Itamaraty. A intervenção abordou a possível criação de um mercado de carbono na Cúpula do Clima na Escócia em Novembro.

Procurado, o Itamaraty não ofereceu um comentário imediato sobre por que o chanceler não viajou à Itália.

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, disse lamentar a ausência de contrapartes diretas de Pequim e Moscou.

— Quando você se reúnem, também precisa conversar um com o outro. Precisamos de um diálogo com a Rússia e a China — disse ele durante um intervalo.

Juntamente com ministros de Desenvolvimento de alguns países, os chanceleres mantiveram discussões sobre a segurança alimentar no contexto da pandemia da Covid-19 e adotaram a Declaração de Matera sobre Segurança Alimentar, Nutrição e Sistemas Alimentares, na qual expressam “profunda preocupação com o estado de insegurança alimentar em todo o mundo”.

“O alívio da pobreza, a segurança alimentar e os sistemas alimentares sustentáveis são fundamentais para acabar com a fome, encorajar a coesão social e o desenvolvimento comunitário, reduzir as desigualdades socioeconômicas entre os países, desenvolvendo o capital humano, promover a igualdade de gênero e o empoderamento da juventude”, diz o texto.

Antes da reunião, o chanceler alemão disse que expressaria sua insatisfação com a maneira como achava que a China e a Rússia haviam oferecido vacinas de Covid para aumentar sua posição perante certos países.

— (Isso) não tem a ver com obter vantagens geoestratégicas de curto prazo — disse Maas.

A chamada diplomacia das vacinas, nas quais países oferecem imunizantes a outras nações, foi inicialmente liderada por China e Rússia, e atualmente tem protagonismo americano. Após a produção superar a demanda interna nos Estados Unidos, o governo de Joe Biden anunciou doações de vacinas para outros países, inclusive o Brasil.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, reiterou a necessidade de entregar muito mais vacinas aos países mais pobres, que até agora receberam muito menos doses do que as nações ricas.

— Para acabar com a pandemia, precisamos levar mais vacinas a mais lugares — disse ele, acrescentando que o G20 ajudaria os países de baixa renda a lidar com “vulnerabilidades de dívida significativas” que foram exacerbadas pelo coronavírus.

A Itália, que abriga as agências de alimentos e agricultura da ONU, enfatizou a importância da segurança alimentar e nutricional global durante a reunião e anunciou que realizaria uma cúpula adicional de dois dias dedicada à África em outubro.

— Acredito que o G20 tem o dever de apoiar a África a sair deste período difícil e entrar numa fase de crescimento sustentado e sustentável — disse Di Maio a repórteres.

Dada a ampla gama de países do G20, pode ser difícil chegar a um acordo, mas a anfitriã Itália disse que houve consenso em algumas questões centrais.

— Além das diferenças e divisões de alguns países na mesa do G20, todos concordamos que devemos cooperar com as mudanças climáticas. E mesmo onde houver diferenças, devemos tentar com todas as nossas forças enfrentar juntos as perturbações climáticas e tornar nossas sociedades sustentáveis — disse Di Maio.

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