COCALZINHO (GO) — Com uma população estimada de 20 mil habitantes, a cidade de Cocalzinho, no noroeste de Goiás, virou de cabeça para baixo nos últimos 14 dias: apenas de policiais que chegaram à escola municipal que serve de base para o quartel improvisado foram mais de 200. São policiais civis, militares, ambientais, além de cooperação da Polícia Rodoviária Federal, que faz bloqueios nas estradas da região, e da Polícia Federal. Até mesmo o Exército cedeu cerca de 40 rádios para ajudar nas buscas.
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Nesta terça-feira, novas informações recebidas pela polícia indicaram que o criminoso teria se movimentado rumo ao município vizinho de Águas Lindas, levando a novas buscas na área e uma ampliação no raio de procura, antes mais restrito ao distrito de Girassol, em Cocalzinho.
Nos últimos dias, entretanto, moradores relatam que o clima na cidade arrefeceu: depois de dias seguidos em que houve troca de tiros, o suspeito de assassinar uma família em Ceilândia já não é visto há pelo menos dois dias, com exceção de relatos desencontrados. Nesta terça-feira, um carro queimado foi encontrado nos arredores de Cocalzinho. A polícia investiga se ele possui alguma relação para o caso, mas sua localização, oposta em relação às buscas, fez com que a atenção dada ao automóvel não fosse muito grande. Após a perícia, ele foi guinchado e encaminhei a uma delegacia da região. A Polícia agora espera o resultado da perícia para avaliar se existe alguma relação com o caso.
O clima de perseguição vem cansando policiais e os próprios moradores da cidade. Oficiais que conversaram com o GLOBO afirmaram que a principal dificuldade é o tamanho da área de busca, bem como o seu relevo, com muitos declives íngremes e diversas grutas que podem servir de esconderijo, bem como a vegetação que é fechada em diversos pontos onde Lázaro Barbosa é procurado.
As buscas têm sido auxiliadas por cães farejadores, que chegaram a encontrar indícios de sangue no local, o que levou policiais a acreditarem que o criminoso teria se ferido em uma das trocas de tiro que teve com policiais. Segundo o site Metrópoles, um advogado criminalista teria sido procurado por pessoas próximas a família para tentar negociar condições para que Lázaro pudesse se entregar. Ele teria recusado a oferta. A Secretaria de Segurança Pública, contudo, ainda não confirma a informação.
Enquanto isso, nos arredores da cidade, moradores esperam que o pesadelo termine para que a cidade volte ao normal. Segundo eles, apesar da ocorrência de alguns crimes comuns, como roubos, a cidade é pacata. Lázaro, inclusive, é conhecido da maioria dos moradores mais antigos da cidade.
Daiana Leite, de 30 anos, é comerciante no distrito de Girassol, onde se concentram boas partes das buscas por Lázaro. Nos últimos quatro dias, não vendeu sequer uma peça de roupa, segundo ela. A empresária resolveu abrir seu comércio após preferir ficar em casa na última semana, com medo do criminoso.
— Eu fico com medo. Minha casa eu deixo trancada todos os dias, mora lá só eu e o meu enteado. Já estava ruim por causa da pandemia. Agora parou de vez — afirma.
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A cidade também é uma das mais afetadas no estado pelo novo coronavírus. Além da confusão policial, o município acabou de sair de uma sucessão na Prefeitura após a morte do então prefeito Alair Rabelo Neto, por Covid-19. Seu sucessor, Alessandro Otone Rabelo, também se infectou com o vírus, mas assumiu a prefeitura.
Cocalzinho é uma das cidades em que a situação da epidemia é considerada crítica no estado. Atualmente, são 85 casos ativos na cidade. Até esta terça-feira, 5397 pessoas foram vacinadas na cidade, pouco mais do que 25%, segundo a Prefeitura.
Outros comerciantes com quem o GLOBO também relataram que o faturamento caiu pela metade nas últimas semanas. Em um mercado na região, Leda Maria também lamentou.
— Parou de tudo o movimento. Quando chega seis, sete horas da noite, já não tem mais ninguém — disse.
O crime também mudou a rotina de quem morava em fazendas ou chácaras da região. A maioria dos moradores da cidade relatam ter abrigado em casa familiares que deixaram suas propriedades com medo de Lázaro Barbosa.
A caçada a Lázaro começou após a chacina de quarto pessoas em Ceilândia, no Distrito Federal, no dia 9 de junho. Na ocasião, ele invadiu uma chácara e matou toda a família. Desde então, o criminoso se embrenhou na mata e vem causando pânico na região, o que lhe rendeu notoriedade nacional. Lázaro entrou em algumas chácaras em busca de alimento e água.
Em buscas realizadas na tarde desta terça-feira, policiais encontraram um lençol na mata de Águas Lindas. Investigadores suspeitam que aquele pode ter sido um local em que ele teria se escondido antes de continuar sua movimentação mata a dentro.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, o lençol também será periciado para avaliar se foi utilizado pelo fugitivo ou não. A pasta também negou que um advogado teria procurado a força-tarefa criada para encontrar Lázaro Barbosa.
“Caso o fugitivo realmente esteja sendo representado por algum advogado e haja esse interesse, é solicitado que a força-tarefa seja procurada. A força-tarefa continua avançando nas buscas. A operação acontece diuturnamente”, afirmou em nota.
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