RIO — O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) deu pelo menos 13 declarações com informações falsas em seu depoimento à CPI da Covid. O GLOBO e a equipe do Fato ou Fake acompanharam a sessão e checaram afirmações do político que ficou famoso pelas previsões erradas feitas sobre a pandemia e é visto como um dos principais assessores do presidente Jair Bolsonaro na gestão da crise sanitária provocada pelo novo coronavírus, apontado como integrante do chamado gabinete paralelo.
Logo no início da sessão da CPI, Terra afirmou que nunca defendeu a tese da imunidade de rebanho, estágio de uma epidemia em que a maior parte da população desenvolve imunidade ao vírus e o surto da doença é controlado.
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— Não existe nenhuma proposta aqui de deixar a população se contaminar livremente. Nunca se fez isso! A imunidade de rebanho é uma consequência. A imunidade de rebanho é como terminam todas as pandemias, é o resultado final — disse o parlamentar.
Porém, em uma série de entrevistas e postagens no Twitter o deputado defendeu que imunidade de rebanho seria a saída para a pandemia, e criticou fortemente a adoção de outra medidas de controle sanitário como o isolamento social. Em janeiro deste ano, por exemplo, ele publicou que a imunidade de rebanho "sempre terminou com o surto antes das vacinas" e que "quanto maior o número de infectados, mais perto do fim do surto estamos".
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Em outro momento da sessão, Terra criticou a política de lockdown adotada na Argentina e afirmou que o país já tinha "420 mil mortos" e que poderia "passar o Brasil" no número de óbitos. Porém, segundo dados do site Our World In Data, vinculado à Universidade de Oxford, o país contabiliza cerca de 89 mil óbitos pela Covid-19 até o momento.
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O deputado afirmou também que "nenhum lockdown conseguiu controlar nada" e que "não há evidências científicas" de que a medida consiga controlar a pandemia. Porém, estudos brasileiros e internacionais já comprovaram a eficácia do isolamento e do distanciamento social para conter a transmissão do novo coronavírus.
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A cidade de Araraquara, em São Paulo, citada pelo deputado, conseguiu reduzir os números da doença fazendo lockdown. A média móvel em 21 de fevereiro, quando as restrições foram decretadas, era de 189,6 casos diários. O número despencou para 51,6 um mês e meio depois, uma queda de 72,8%, de acordo com acompanhamento dos pesquisadores do Grupo de Inovação e Extensão em Engenharia Urbana da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
'Ninguém nos postos do Rio'
Outra afirmação incorreta feita por Terra foi de que no Rio de Janeiro, no início de junho de 2020, "não tinha ninguém nos postos de saúde nem nos hospitais com Covid". Porém, no primeiro dia de junho, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde, o Rio de Janeiro tinha uma taxa de ocupação geral de 64% em leitos de enfermaria e 90% em leitos de UTI, considerando todas as unidades da rede estadual. De acordo com a pasta, havia 2.125 pacientes com Covid-19 internados.
Terra também deu um dado falso no depoimento à CPI da Covid quando afirmou que o Brasil seria o recordista mundial de tempo sem aulas presenciais nas escolas. Um levantamento feito pela Unesco mostrou que o Brasil aparece como 16º no ranking, com escolas sem funcionar durante o período de 38 semanas.
Em diversos momentos de seu depoimento Terra citou a tese de defensores da atuação do presidente Bolsonaro em meio a pandemia afirmando que o Supremo Tribunal Federal "impediu, limitou o poder do presidente de interferir" nos estados em decisão do dia 15 de abril do ano passado.
Porém, em nenhum momento o Supremo proibiu ou limitou ações federais. Na verdade, o Plenário decidiu, no início da pandemia, em 2020, que União, estados, Distrito Federal e municípios têm competência “concorrente” na área da saúde pública. O STF diz que o entendimento foi reafirmado pelos ministros em diversas ocasiões. “Conforme as decisões, é responsabilidade de todos os entes da federação adotarem medidas em benefício da população brasileira no que se refere à pandemia", afirma o Supremo.
Cruzeiro Diamond Princess
Terra também deu informações incorretas sobre o caso do cruzeiro Diamond Princess, que ficou em quarentena no Japão após surto da doença. Ele afirmou que "todo o contágio do vírus foi livre dentro do navio". Porém, após a identificação de casos na embarcação, passageiros e a tripulação ficaram confinados em seus quartos e testes foram realziados para mapear a contamizanação do vírus.
Outra declaração falsa do deputado foi de que a Suécia seria um exemplo de combate correto à pandemia na Europa. Segundo o Our World in Data, o país tem os piores índices entres as nações escandinavas. Enquanto a Suécia tem a taxa acumulada de 1443 mortes por milhão, ocupando a 34ª posição no ranking mundial, a Noruega tem apenas 146 mortes por milhão (108ª posição) e a Dinamarca 437 (80ª posição).
Ainda sobre a Suécia, ele afirmou que a nação nórdica "é dos países com mais de 10 milhões de habitantes que menos morte teve”. Segundo a plataforma Our World in Data, entre os 90 países com mais de 10 milhões de habitantes, a Suécia é o 17º com mais mortes por Covid-19 por milhão de habitantes. A taxa do país escandinavo é de 1.443 mortes por milhão de habitantes.
Em outro dado incorreto dado à CPI da Covid, Terra disse que a vacina contra a H1N1 surgiu “seis meses depois que terminou a pandemia”. Porém, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou o fim da pandemia da gripe H1N1 em agosto de 2010, quase um ano após as primeiras vacinas contra a doença começarem a ser aplicadas em setembro de 2009 na China.
O deputado federal também desinformou ao dizer que se São Paulo e Rio Grande do Sul fossem países separados estariam em terceiro lugar no mundo no ranking de mortalidade, perdendo apenas para Peru e Hungria. Segundo o Ministério da Saúde, o Rio Grande do Sul registra 267,6 mortes por 100 mil habitantes e São Paulo, 266,2.
Portanto, além do Peru e Hungria, ambos ficariam atrás também da Bósnia e Herzegovina, com 293,9 óbitos por 100 mil e República Tcheca, com 282,7, que ocupam respectivamente a terceira e quarta posição do ranking feita pela plataforma Our World in Data.
Em outro momento da sessão, Terra disse que nunca houve medidas de quarentena e isolamento social em outro para combater pandemias: “Trancar as pessoas em casa, sadias em casa, fechar comércio, fechar tudo. Nunca houve isso na história”, disse.
Porém, como publicou o Fato ou Fake, a quarentena é um recurso usado pelo menos desde o fim da Idade Média para evitar que doenças se espalhem. O termo “quarentena” faz referência ao primeiro exemplo conhecido do método de isolamento, ocorrido no século 14 na Europa, durante a pandemia da peste negra ou peste bubônica.
Em outra desinformação dada pela deputado, ele afirmou que o estado do Amazonas, ficou "seis meses praticamente sem vírus, sem epidemia". No entanto, de acordo com dados divulgados pela Secretaria de Saúde do Amazonas (Susam-AM), em nenhum momento, de junho a dezembro, o estado do Amazonas passou um dia sem novos casos de Covid-19 registrados.
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