Mansur: O contraste inevitável

Ainda que impreciso, é inevitável o contraste entre as duas faces do futebol brasileiro: uma, que concentra a atenção, o investimento, continua viva num torneio olímpico de times desfigurados; a outra, que levou a Tóquio suas estrelas, lutou contra o preconceito, e agora luta para não perder a corrida numa era em que o jogo se globaliza e novas potências surgem. Esta, já se despediu.

As reações à queda da seleção feminina são reveladoras de como se enxerga futebol no Brasil. De repente, muita gente se incomodou com um traço conservador de Pia Sundhage, a técnica sueca contratada em 2019. Há um vício brasileiro de contratar títulos, não um perfil profissional. Competente e das mais vencedoras do mundo, Pia nunca foi uma embandeirada da ofensividade. Bastava avaliar seus trabalhos. Mas sua chegada foi saudada como se fosse possível uma treinadora trazer na bagagem as duas medalhas de ouro que conquistou nos Estados Unidos e colocá-las no peito das jogadoras brasileiras.

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O jogo se globalizou e o talento que já garantiu pódios ao Brasil, hoje não basta mais. Seleções estruturadas emergem, enquanto o Brasil vive a infância de um modelo profissional, de uma liga e de torneios de base. A volta à elite exige tempo e um projeto muito mais amplo do que questionar a treinadora de turno. Pia melhorou a seleção e merece tempo para ajudar o Brasil a dar o salto.

Já os homens seguem em frente após o jogo mais controlado até aqui, apesar do magro 1 a 0 sobre o Egito. Num torneio que parece uma espécie de vestibular para qualificar candidatos a vagas na seleção principal, a presença de área, aliada à mobilidade e à capacidade de participar do jogo coletivo, fazem de Matheus Cunha um perfil que o time de Tite tem dificuldade de achar. Contra o Egito, acertou bonito chute para decidir o jogo, numa espécie de contraste com a dificuldade que vinha exibindo ao finalizar. Matheus saiu machucado contra os egípcios: tê-lo saudável permitiria uma espécie de exame final nos jogos decisivos.

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O meio-campo também parece oferecer dados importantes a Tite. Bruno Guimarães é o melhor meia brasileiro nas Olimpíadas. E sua capacidade de jogar de uma intermediária a outra podem fazê-lo preencher outra lacuna da seleção. Mas o destaque diante do Egito foi Douglas Luiz, que chegou a ter lugar no time de Tite, mas perdeu espaço para Fred.

O Brasil é favorito a chegar à final, mas merece cuidado um México que, além de ser um antigo algoz, marcou 14 gols em quatro partidas.

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