Milhares protestam em Cuba em meio a recorde de casos de Covid-19

HAVANA — Milhares de cubanos foram às ruas neste domingo em um protesto antigoverno, em meio ao agravamento da pandemia de Covid-19 na ilha, meses de restrições e o que afirmam ser negligência das autoridades. A dimensão exata dos protestos ainda é desconhecida, mas trata-se de algo raro no país, onde a oposição é considerada ilegal.

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Em um pronunciamento à nação, o presidente Miguel Díaz-Canel adotou um tom combativo, e tropas especiais das Forças Armadas foram vistas nas ruas de Havana. Culpando os EUA pelos protestos, ele disse que haverá uma "resposta revolucionária" e convocou "todos os comunistas a irem às ruas" para enfrentar as "provocações" incisivamente:

— Estamos dispostos a dar a vida. Vão precisar passar por cima de nossos cadáveres se querem enfrentar a revolução. Estamos dispostos a tudo — disse o presidente. — Não vamos permitir que nenhum contrarrevolucionário, mercenários vendidos ao império americano, desestabilizem o país (...). A ordem de combate está dada. Às ruas, revolucionários.

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Transmitidos ao vivo pelo Facebook, as manifestações começaram no povoado de San Antonio de los Baños, a sudoeste de Havana, onde Díaz-Canel esteve na tarde deste domingo. Aos gritos de "Pátria e vida" — título de uma música lançada neste ano por rappers cubanos — mas também "abaixo a ditadura" e "não temos medo", os manifestantes majoritariamente jovens marcharam pela comunidade de 50 mil habitantes, a cerca de 33 km da capital.

Manifestações similares ocorreram em outros pontos do país, como Palma Soriano, na província de Santiago de Cuba, mas sua dimensão ainda não está clara. O artista Luis Manuel Otero, um crítico do governo, convocou um ato no Malecón, a principal avenida à beira-mar de Havana. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram centenas de pessoas na região.

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As autoridades responderam cortando a internet e linhas telefônicas nas regiões onde há protestos, segundo a agência Reuters.

A situação econômica de Cuba se agravou com a pandemia, levando a uma queda de 11% do PIB em 2020. Ela já vinha se deteriorando durante o governo Trump, que interrompeu a aproximação iniciada por Barack Obama e reforçou o embargo econômico à ilha com mais de 240 novas restrições, que não foram suspensas por Joe Biden.

Desde que a pandemia de Covid-19 começou, em março de 2020, os cubanos são obrigados a fazer fila para se abastecerem com alimentos, situação que se soma à ampla escassez de remédios — fontes de um grande mal-estar social.

Os protestos deste domingo coincidem com o teceiro dia consecutivo de recordes de casos de Covid-19: foram 6.923 infecções, com 47 mortes. Ao todo, o país registra de 11,2 milhões de habitantes registra 238.491 diagnósticos, com 1.537 mortes.

— São números alarmantes, que aumentam diariamente — disse neste domingo o chefe da Epidemiologia do Ministério da Saúde, Francisco Durán, em sua habitual entrevista coletiva.

A situação é especialmente grave na província turística de Matanzas, a cerca de 100 km ao Leste de Havana, onde o aumento de casos ameaça levar o sistema de saúde ao colapso. Na semana passada, as autoridades cubanas enviaram para lá uma brigada de 500 médicos e enfermeiros, bem como recursos de saúde e alimentos, segundo a mídia local.

Com as hashtags #SOSCuba, #SOSMatanzas e #SalvemosCuba, multiplicam-se nas redes sociais os pedidos de socorro, mas também apelos para que o governo facilite o envio de doações oriundas do exterior. Os pedidos foram compartilhados nas redes sociais por artistas conhecidos na região, como Daddy Yankee e Becky G.

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No sábado, um grupo de dissidentes, o Conselho para a Transição Democrática, denunciou que a ilha vive em uma "crise humanitária" devido ao aumento das infecções, pedindo que o governo estabelecesse um corredor humanitário de ajuda. Toda oposição é ilegal em Cuba e o governo acusa os dissidentes de serem financiados pelos Estados Unidos.

No texto, o grupo destaca que "a abertura às doações que muitos cubanos enviaram ou desejam enviar a seus compatriotas e a solicitação de ajuda humanitária a organismos internacionais ou a países dispostos a estender a mão são os passos que um governo deveria estar disposto a dar" na conjuntura atual.

O governo cubano, por sua vez, admite uma "complexa situação epidemiológica", mas rejeita o termo "crise humanitária". Se diz aberto a receber doações e denuncia "campanhas de descrédito".

"Enquanto o povo e o governo enfrentam a covid-19 e destinam todos os recursos para lutar pela saúde, aqueles que bloqueiam Cuba tentam articular campanhas de descrédito", escreveu o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, no Twitter.

Para "conter a disseminação" do coronavírus, o Ministério da Saúde de Cuba anunciou no sábado um pacote de medidas que entrará em vigor na próxima quinta-feira. Entre elas, o "isolamento obrigatório de 14 noites" em hotéis para todos os cubanos que chegam ao país pelos aeroportos de Varadero e de Cayo Coco e a "realização sistemática de testes" rápidos para trabalhadores de transporte e turismo, entre outros.

Cuba autorizou na sexta-feira o uso emergencial de sua vacina anticovid Abdala, a primeira da América Latina, que tem 92,28% de eficácia contra o risco de contrair covid-19 com sintomas.

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