Em meio a crise de segurança regional, novo presidente do Irã promete fim das sanções e recuperação econômica

O novo presidente do Irã, o conservador Ebrahim Raisi, prometeu acabar com o que chamou de “sanções opressoras”, se referindo às medidas aplicadas pelos EUA contra a economia local. Primeiro representante de uma linha política próxima à do aiatolá Ali Khamenei a comandar o país em oito anos, ele assume a chefia do Executivo em meio ao agravamento das tensões no Golfo Pérsico, incluindo ataques a navios, ameaças de retaliação e negociações diplomáticas estagnadas.

Nesta terça-feira, Raisi recebeu o endosso oficial de Khamenei, procedimento simbólico que legitima a vitória do ex-chefe do Judiciário do país nas urnas, em junho — a votação teve um dos menores índices de comparecimento desde a Revolução de 1979, mas ele acabou eleito no primeiro turno.

No discurso, em meio aos esperados elogios à República Islâmica, enumerou alguns de seus desafios, como o impacto das sanções, em especial após 2018, quando o acordo sobre o programa nuclear iraniano foi abandonado pelos EUA, que adotaram uma política chamada de “pressão máxima”.

— Certamente buscaremos o fim das sanções opressoras, mas certamente não vamos condicionar [as conversas] à subsistência do povo e à economia, e não vamos fazer isso de acordo com a vontade dos estrangeiros — declarou Raisi.

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Crítico do governo de seu antecessor, Hassan Rouhani, e do próprio acordo internacional fechado em 2015 sobre o programa nuclear iraniano, Raisi já se comprometeu com o cumprimento do plano em várias ocasiões, inclusive na campanha presidencial de 2017, quando foi derrotado pelo moderado.

Após a decisão do governo de Donald Trump de abandonar o pacto, que previa inspeções mais extensas das atividades nucleares iranianas em troca do fim das sanções internacionais, ele passou a criticar a política de conciliação e a defender uma “economia de resistência”, mas mantendo as portas abertas às negociações.

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Hoje, as conversas indiretas entre os signatários do plano — Irã, Alemanha, Reino Unido, França, Rússia e China, além da União Europeia — sobre o retorno dos EUA estão estagnadas, aguardando sinais mais claros do posicionamento do novo presidente.

Desafios

Enquanto isso, a política de “pressão máxima” segue em vigor, e está diretamente ligada às crises que o conservador encontrará ao assumir o cargo oficialmente na quinta-feira, diante do Parlamento.

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Na principal delas, recuperar a economia depois de uma série de recessões consecutivas. As sações americanas prejudicaram o fornecimento de itens básicos, como medicamentos e, em tempos mais recentes, de insumos para o combate à Covid-19, incluindo vacinas: com quase 4 milhões de infecções e 91 mil mortes, o país é o mais atingido no Oriente Médio, e desde o começo de julho enfrenta uma nova onda de casos, com apenas 2,9% dos iranianos tendo completado o ciclo vacinal.

O país enfrenta ainda uma onda de protestos, motivados em grande parte por recorrentes problemas no fornecimento de água no Sudoeste do país, vistos pela população como o resultado do corte de recursos para o saneamento e, especialmente, da incompetência de sucessivas administrações regionais e nacionais. O baixo comparecimento às urnas em junho, 48,8%, foi um sinal dessa pouca confiança, e Raisi prometeu ações imediatas para mudar o quadro.

— O que as pessoas querem do novo governo é mudança. Essa mudança é inevitável para o país e deve acontecer, o plano do governo é um plano de mudança — declarou. — Nesta transformação, é necessário que todos os intelectuais, pensadores, funcionários públicos, interessados e entes próximos participem.

Crise de segurança

Raisi, visto como potencial sucessor de Khamenei como líder supremo, chegará ao poder em meio a uma crise de segurança regional na qual o Irã é alvo de críticas e ameaças de potências regionais e ocidentais.

Nos últimos meses, uma série de navios israelenses e iranianos vêm sendo atacados na região, em incidentes por vezes misteriosos, sem autoria clara. Analistas veem nesses episódios uma face do conflito indireto entre Israel e Irã, que inclui ainda ataques israelenses contra milícias pró-Teerã na Síria.

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Na quinta-feira passada, um petroleiro controlado por uma empresa de capital israelense foi atacado a cerca de 200 km da costa de Omã, quando fazia uma rota entre a Tanzânia e os Emirados Árabes Unidos, com dois tripulantes mortos.

Imediatamente, governos dos EUA e Reino Unido acusaram o Irã, e defenderam uma resposta coordenada com Israel, que também apontou Teerã como responsável. O governo da Arábia Saudita, outro rival do Irã na região, declarou ver o incidente como um risco à navegação no Golfo Pérsico. Os iranianos negam qualquer responsabilidade, e prometem se defender caso ocorra alguma retaliação que ameace sua segurança nacional.

Nesta terça-feira, autoridades britânicas afirmaram que o Irã pode ter sequestrado um outro petroleiro, o Asphalt Princess, que trafegava pela via que leva ao Estreito de Ormuz, entrada do Golfo Pérsico. O caso está sendo investigado pelo Reino Unido e EUA, que ainda não deram detalhes, mas um alerta foi emitido para embarcações na área, pedindo que adotassem “extrema precaução”.

A Guarda Revolucionária, que já se envolveu em incidentes semelhantes no passado, negou qualquer responsabilidade, e disse que as acusações seriam pretexto para uma “ação hostil” contra Teerã.

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