WASHINGTON — Pela quarta vez, o governo americano anunciou sanções contra autoridades cubanas pela repressão aos protestos na ilha, que começaram em 11 de julho. Nesta quinta-feira, os alvos foram dois funcionários do Ministério das Forças Armadas Revolucionárias e outro do Ministério do Interior.
Em comunicado, o Departamento do Tesouro dos EUA disse que tomou a ação de acordo com o programa Global Magnitsky Act, que congela os ativos de quem as autoridades americanas acreditam estarem envolvidos em abusos dos direitos humanos e impede que os americanos façam negócios com eles.
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Os protestos, contra o governo e a crise socioeconômica na ilha, foram os maiores registrados em Cuba desde 1994. Os atos ocorreram em mais de 40 cidades cubanas, deixando um morto e mais de 600 detidos na data dos protestos e nos dias seguintes.
As novas sanções foram a quarta rodada de medidas que Washington tomou contra autoridades e entidades cubanas. Há uma semana, foram alvos dois funcionários do Ministério do Interior cubano e a uma unidade militar, conhecida como "Boinas Vermelhas".
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No mês passado, a Polícia Nacional e dois chefes da força já haviam sido alvo, além do ministro da Defesa e uma unidade das forças especiais do Ministério do Interior, também por alegações de abusos dos direitos humanos na repressão aos protestos. Após os protestos, o presidente Joe Biden havia dito que ia impor medidas punitivas adicionais, a menos que Havana faça reformas significativas.
Os alvos desta quinta-feira são Roberto Legra Sotolongo, chefe da Diretoria de Operações das Forças Armadas Revolucionárias e vice-chefe do Estado-Maior, e Andres Laureano Gonzalez Brito, chefe do Exército Central, que, segundo o Departamento do Tesouro, estão ligados a unidades enviadas para reprimir manifesantes pacíficos. Já Abelardo Jimenez Gonzalez, chefe da Diretoria de Estabelecimentos Penitenciários, é responsável pelo tratamento de mais de 800 pessoas presas nos protestos, disse o órgão.
— O Departamento do Tesouro continuará responsabilizando aqueles que permitem ao governo cubano perpetuar os abusos aos direitos humanos — disse Andrea Gacki, diretora do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Tesouro.
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O presidente cubano, Miguel Diaz-Canel, culpa os Estados Unidos pelas manifestações, que nos últimos anos endureceram seu embargo comercial de décadas à ilha. Segundo Canel, muitos manifestantes foram manipulados por campanhas nas redes sociais, orquestradas pelos EUA.
Os Estados Unidos impõem um embargo a quase todas as exportações de Cuba desde 1962. A partir de 2014, o governo de Barack Obama começou uma reaproximação diplomática com o governo cubano, com o objetivo de afrouxar as restrições comerciais, mas ela foi revertida por Donald Trump em 2017, seu primeiro ano na Casa Branca.
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Os protestos do dia 11 de julho tiveram como ponto central a grave crise econômica vivida pela ilha, agravada pela política de sanções adotada pelo governo de Donald Trump e mantida por seu sucessor, Joe Biden. Em 2020, o PIB cubano despencou 11%, uma situação agravada também pela pandemia do novo coronavírus, que afastou os turistas estrangeiros e, com eles, uma das principais fontes de renda do país.
Nas ruas, manifestantes denunciavam a falta de alimentos e medicamentos em várias cidades, além de cortes de energia cada vez mais frequentes. Além disso, o país enfrenta o pior momento na pandemia, com uma média diária de casos em torno de 7 mil, e quase 60 mortes a cada 24 horas.
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