Laudo dirá se Adélio Bispo, que esfaqueou Bolsonaro, pode deixar penitenciária

Marcelo Rocha
Brasília, DF

O exame psiquiátrico que vai apontar se Adélio Bispo, autor da facada em Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2018, tem condições de retornar ao convívio social correu nesta segunda-feira (25).

O procedimento foi realizado por dois peritos no presídio federal de Campo Grande, onde ele se encontra internado. Uma assistente técnica indicada pela defesa acompanhou.

O prazo para o laudo pericial ser anexado ao processo é de 30 dias. O caso está sob a responsabilidade da 5ª Vara Federal Criminal na capital mato-grossense.

O atentado em Juiz de Fora (MG) ocorreu em 6 de setembro, a um mês do primeiro turno das eleições. Adélio foi preso no ato e confessou o crime.

Em 2019, ao julgá-lo pela tentativa de assassinato, a Justiça Federal em Minas Gerais o considerou inimputável (não pode ser condenado) por questões de saúde mental.

Foi estipulada medida de segurança de internação por prazo mínimo de três anos, "ao fim do qual deveria ser realizada a perícia médica para verificação da manutenção ou cessação da periculosidade".

A sentença transitou em julgado (sem possibilidade de novos recursos) em julho de 2019. Por essa razão foi agora realizada uma nova perícia.

Responsável pela defesa de Adélio durante a tramitação do processo, o advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior afirmou que o exame é similar ao que foi feito anteriormente.

O criminalista diz acreditar em alguma melhora de seu antigo cliente, o suficiente para que a Justiça transfira Adélio da internação para um tratamento ambulatorial fora do presídio.

"Caso isso se confirme, vejo que o juízo terá uma decisão difícil a tomar. Estamos em um momento político bem delicado. Correrá perigo fora da penitenciária", disse Oliveira Junior.

Sem dúvidas quanto à autoria, objeto de um primeiro inquérito, uma segunda apuração foi instaurada pela Polícia Federal para averiguar o envolvimento de terceiros e possíveis mandantes.

Em junho de 2020, com base nas conclusões da Polícia Federal, o Ministério Público Federal em Minas Gerais se manifestou pelo arquivamento provisório do inquérito policial.

No documento enviado à Justiça Federal, a Procuradoria afirmou ter concluído que Adélio concebeu, planejou e executou sozinho o crime.

Segundo o MPF (Ministério Público Federal), o réu já estava em Juiz de Fora quando o ato de campanha do então candidato à Presidência foi programado e que, portanto, o autor da facada não se deslocou até a cidade com o objetivo de cometer o crime.

Os representantes da Procuradoria disseram ainda que Adélio não mantinha relações pessoais com nenhuma pessoa na cidade mineira, tampouco estabeleceu contatos que pudessem ter exercido influência sobre o atentado.

Os membros do MPF frisaram que ele não efetuou ou recebeu ligações telefônicas ou troca de mensagens por meio eletrônico com possível interessado no atentado ou pessoas relacionadas ao crime. Naquele mesmo mês, a Justiça Federal homologou o arquivamento.

Bolsonaro questiona até hoje o trabalho realizado pela PF, que não coletou qualquer evidência de que Adélio tenha sido auxiliado por outras pessoas ou obedecido a um mandante.

Em novembro passado, porém, com base em um pedido de Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro, o TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) mandou reabrir o caso.

O tribunal autorizou que a PF vasculhe dados bancários e o conteúdo do celular apreendido em poder de Zanone Oliveira Júnior.
As informações podem revelar quem custeou os honorários advocatícios, o que, para Bolsonaro e seus aliados, levará a polícia ao suposto mentor do crime.

No início do ano, a PF escolheu um outro delegado, que inclusive já investigou o PCC (Primeiro Comando da Capital), para dar continuidade à investigação. A tarefa de Martin Bottaro Purper é esclarecer se Adélio contou com a ajuda de terceiros ou agiu a mando de alguém.

O trabalho havia sido iniciado por Rodrigo Morais Fernandes. Em dezembro passado, ele foi designado pela direção da polícia para missão de dois anos numa força-tarefa em Nova York, nos Estados Unidos. A atuação de Fernandes foi alvo de críticas de Bolsonaro e aliados.

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