Daniela Arcanjo
São Paulo, SP
O sindicato que representa os comandantes, copilotos e comissários de voo brasileiros convocou uma manifestação após a Gol implementar uma política de compensação de salários com valores diferentes dos apresentados pelos trabalhadores.
O protesto está marcado para esta segunda-feira (1º), às 13h, na sede do SNA (Sindicato Nacional dos Aeronautas).
Procurada, a Gol não respondeu até a publicação desta reportagem.
A decisão que motivou os protestos foi anunciada na última terça-feira (26) pelo presidente-executivo da Gol, Celso Ferrer. Em vídeo, ele afirma que a empresa vai pagar, pelos próximos quatro meses, valores para recompor os salários, além de criar um fórum de "otimização de custos" que contará com 12 tripulantes convidados.
Segundo o sindicato, o valor mensal dessa recomposição vai de aproximadamente R$ 450, para comissários, até R$ 2.300, para comandantes. A proposta do sindicato era um reajuste salarial de 8,5% e uma verba indenizatória mensal semelhante à apresentada pela empresa, porém por 12 meses, não quatro.
"Para muitos tripulantes parece um grande cala a boca", afirma o presidente do sindicato, Henrique Hacklaender. "A Gol implementou um gerenciamento de crise sem nenhuma aprovação da categoria e sem mensurar se isso estaria a contento."
Por meio de seu site, o SNA afirmou que a compensação implementada pela Gol "não atende à pauta de reivindicação" da categoria. A entidade também não concorda com a criação de um fórum com tripulantes para discutir cortes de despesas.
A convocação do protesto é mais um capítulo do descontentamento dos funcionários da companhia aérea desde o início da pandemia.
O setor foi um dos mais afetados pela paralisação da economia. Segundo levantamento da CNI (Confederação Nacional de Indústrias), em maio de 2020 o país registrou 588 mil passageiros pagantes, número 93% menor em relação ao mesmo mês do ano anterior. Segundo dados da Iata (associação internacional das empresas aéreas), as companhias perderam, em média, US$ 230 milhões por dia nos primeiros seis meses da crise.
Nesse contexto, as aéreas negociaram com os sindicatos redução de salários em troca de manutenção dos empregos –acordo que foi mantido até dezembro do ano passado pela Gol.
Mesmo com a volta do salário integral, Hacklaender afirma que, em relação a 2019, a remuneração dos tripulantes da Gol caiu pelo menos 20%. Isso porque metade desse valor é variável e depende da quantidade de voos, que a empresa ainda não retomou no ritmo anterior à crise do coronavírus.
"Durante a pandemia, muitas pessoas gastaram tudo o que tinham das suas reservas para tentar se manter", afirma o piloto.
No video divulgado nesta semana, o presidente-executivo da Gol diz que a empresa trabalha para normalizar as horas de voo dos funcionários até dezembro deste ano.
O setor aéreo segue sendo um dos mais combalidos da crise sanitária, embora dê sinais de recuperação. Em julho deste ano, foram 7,3 milhões de passageiros pagantes transportados, 160% mais do que no mesmo período de 2021.
Nesta quinta-feira (28), a Gol divulgou que teve um prejuízo líquido de R$ 2,85 bilhões no segundo trimestre, contra um lucro de R$ 658 milhões no mesmo período do ano anterior.
Já a receita operacional líquida no período saltou 215,3%, para R$ 3,24 bilhões, o que não foi suficiente para animar os investidores: as ações da empresa chegaram a recuar 6% na tarde desta quinta.
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