Derretimento das camadas de gelo da Groenlândia já é irreversível, indica estudo

As camadas de gelo da Groenlândia podem já ter derretido a um ponto irreversível, e as probabilidades é que continuem neste processo independentemente da velocidade com que o mundo reduza as emissões que causam o aquecimento global, concluiu um novo estudo.

Os cientistas estudaram 234 geleiras em todo o território ártico por 34 anos até 2018 e descobriram que as nevascas anuais já não eram mais suficientes para reabastecer os blocos de gelo perdidos no derretimento durante o verão.

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Esse derretimento já está fazendo com que o oceano suba cerca de um milímetro por ano. Se todo o gelo da Groenlândia for eliminado, a água liberada elevaria o nível do mar em uma média de 6 metros, o suficiente para inundar muitas cidades costeiras ao redor do mundo.

— A Groenlândia vai ser o canário na mina de carvão (expressão que se refere a qualquer sinal que indica um perigo iminente), e o canário já está praticamente morto neste momento — disse o especialista em glaciares Ian Howat, da Ohio State University. Ele e seus colegas publicaram o estudo nesta quinta-feira na revista Nature Communications Earth & Environment.

O Ártico tem se aquecido pelo menos duas vezes mais rapidamente do que o resto do mundo nos últimos 30 anos, um fenômeno conhecido como "amplificação do Ártico". Em julho, o gelo marinho polar atingiu sua menor extensão em 40 anos.

O degelo do Ártico trouxe mais água para a região, abrindo rotas para o tráfego marítimo, além de ter aumentado o interesse na extração de combustíveis fósseis e outros recursos naturais.

A Groenlândia é estrategicamente importante para os militares dos Estados Unidos e para o sistema americano de alerta precoce de mísseis balísticos, já que a rota mais curta da Europa para a América do Norte passa pela ilha do Ártico.

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No ano passado, o presidente Donald Trump demonstrou interesse em comprar a Groenlândia, um território dinamarquês autônomo. Mas a Dinamarca, que é aliada dos EUA, rejeitou a oferta. No mês passado, o país norte-americano reabriu um consulado em Nuuk, capital do território groenlandês.

Na semana passada, a Dinamarca alegou que estava nomeando um intermediário entre Nuuk e Copenhagen, duas regiões separadas por cerca de 3.500 quilômetros de distância.

Há, no entanto, uma preocupação antiga por parte dos cientistas sobre o destino da Groenlândia, dada a quantidade de água presa no gelo.

O novo estudo sugere que a camada de gelo que cobre o território só ganhará massa apenas uma vez a cada 100 anos, um indicador sombrio de como é difícil fazer crescer novamente as geleiras depois que elas apresentam um alto nível de derretimento.

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Ao estudar imagens de satélite das geleiras, os pesquisadores notaram que elas tinham 50% de chance de recuperar a massa antes de 2000, mas as chances caíram desde então.

— Ainda estamos perdendo mais gelo agora do que o que foi ganho com o acúmulo de neve em "bons" anos — disse a principal autora do estudo, Michalea King, uma glaciologista da Ohio State University.

King acrescenta que as descobertas devem estimular os governos a se prepararem para a elevação do nível do mar.

— As coisas que acontecem nas regiões polares não ficam apenas nas regiões polares — afirmou ela.

Ainda assim, o mundo pode reduzir as emissões para desacelerar a mudança climática, asseguraram os cientistas. Mesmo que a Groenlândia não consiga recuperar a massa gelada que cobriu seus 2 milhões de quilômetros quadrados, conter o aumento da temperatura global pode diminuir a taxa de perda de gelo.

— Quando pensamos em ação climática, não estamos falando sobre reconstruir a camada de gelo da Groenlândia — explicou Twila Moon, uma especialista do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo que não esteve envolvida no estudo. — Estamos falando sobre a rapidez com que o aumento do nível do mar atinge nossas comunidades, nossa infraestrutura, nossas casas, nossas bases militares.

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