WASHINGTON - Apesar da promessa de campanha de Donald Trump de "drenar o pântano", a empresa de sua família descobriu um novo e lucrativo fluxo de receita quando ele assumiu o cargo — vindo de pessoas que queriam favores do presidente, relata o New York Times em uma muito extensa matéria no jornal deste domingo, a quarta da série sobre a declaração de impostos de Trump.
A investigação do NYT “descobriu mais de 200 empresas, grupos de interesses especiais e governos estrangeiros que gastavam nas propriedades de Trump enquanto colhiam benefícios dele e de seu governo", escreveu o jornal.
O texto relata ainda que "quase um quarto desses clientes não foram reportados anteriormente (...) .Somente 60 clientes com interesses junto ao governo Trump trouxeram para o negócio de sua família quase US$ 12 milhões durante os primeiros dois anos de sua Presidência. Quase todos viram seus interesses avançarem, de alguma forma, por meio do senhor Trump ou de seu governo".
Segundo o NYT, Trump “não falhou apenas em acabar com a cultura interna de Washington de lobby e busca de favores. Ele a reinventou, transformando seus próprios hotéis e resorts nos novos quartos dos fundos, onde o mix de negócios públicos e privados e os interesses especiais reinam”.
Os dados de retorno de impostos federais para Trump e seu império de negócios obtidos pelo The New York Times mostram que, mesmo quando ele promoveu sua imagem como um empresário de sucesso para ganhar a Presidência, grande parte de seus ativos imobiliários estavam sob tensão financeira, após perdas nas décadas anteriores.
Após a eleição, a empresa de sua família descobriu um novo e lucrativo fluxo de receita: pessoas que queriam algo do presidente.
Aqui estão sete descobertas importantes da investigação.
1) A empresa da família do presidente ganhou milhões com clientes com interesses junto ao governo.
Apenas 60 clientes com interesses junto ao governo renderam à Trump Organization quase US$ 12 milhões durante os primeiros dois anos da Presidência de Trump, descobriu o Times. Quase todos viram seus interesses promovidos, de alguma forma, seja pelo presidente ou seu governo.
Entrevistas com cerca de 250 executivos, membros do resort, lobistas, funcionários da propriedade Trump e funcionários atuais ou antigos do governo forneceram um relato abrangente de como os clientes se relacionaram com o governo — e de como o presidente lucrou.
Muitos disseram em entrevistas que qualquer resultado favorável era acidental em relação aos gastos efetuados. Mas se esses clientes ganharam ou perderam, Trump se beneficiou. Eles pagavam ao negócio da família para jogarem golfe, realizarem jantares de luxo, promoverem enormes retiros corporativos e bailes de gala.
Durante a campanha de Trump e os meses que antecederam sua posse, a revista interna de seu resort de Mar-a-Lago na Flórida anunciou quase 100 novos membros, vários dos quais tinham interesses comerciais significativos em Washington. Os registros fiscais mostram que, apenas em 2016, as taxas de matrícula do resort geraram receitas de quase US$ 6 milhões.
2) De Washington, o presidente manteve-se de olho na Trump Organization
Como presidente eleito, Trump prometeu se afastar da Trump Organization e se retirar das operações de sua empresa privada. Como presidente, ele vigiava as propriedades administradas pela empresa, que agora é liderada por seus filhos Eric e Donald Jr.
Quando Trump passava no Trump International Hotel em Washington, ele às vezes informava aos gerentes que estava sendo informado sobre o desempenho deles. Em Mar-a-Lago, ele disse aos membros antigos que deveriam aumentar os preços para a multidão de novos candidatos querendo entrar. Então ele o fez, pelo menos duas vezes.
Eric Trump às vezes contava a seu pai sobre grupos específicos que haviam agendado eventos em Mar-a-Lago, disse um ex-funcionário do governo. E, quando Trump se informava sobre seu império empresarial na Casa Branca, ele ocasionalmente conhecia detalhes de listas de membros do resort, de acordo com duas pessoas com conhecimento do tema.
3) Ter acesso a Trump era fácil: ele passou aproximadamente um a cada quatro dias de sua Presidência em seus hotéis e resorts
Quando o presidente entrava em seu hotel em Washington para jantar, a notícia parecia se espalhar quase instantaneamente. As pessoas podem ficar plantadas no bar do hotel por horas, esperando até mesmo por uma breve audiência. Em Mar-a-Lago, os membros pagavam a Trump para passar um tempo no que era, em última análise, sua casa.
Durante as refeições, as pessoas faziam fila em sua mesa, para falar com ele. Os convidados, mesmo membros pagantes, tinham o hábito de agradecer a Trump por recebê-los.
— As pessoas sabem e esperam que ele esteja em Mar-a-Lago, então trazem um convidado ou vêm com uma ideia específica— disse Fernando Cutz, ex-assessor de segurança nacional que costumava visitar o clube com Trump. — Com esse acesso, você pode lançar suas ideias. Com este presidente, ele realmente ouviria e direcionaria sua equipe para fazer o acompanhamento.”
E as chances eram boas de que ele estaria por perto. Trump visitou os hotéis e resorts da família Trump em quase 400 dias de sua Presidência.
4) Os benefícios foram tão pesadas quanto uma diretiva presidencial e tão efêmeras quanto um tuíte presidencial
Os clientes nas propriedades variavam amplamente: políticos estrangeiros e barões do açúcar da Flórida, um bilionário chinês e um príncipe sérvio, entusiastas da energia limpa e seus adversários na indústria do petróleo, ativistas de pequenos governos e empreiteiros que buscam bilhões em orçamentos federais cada vez mais gordos.
O governo Trump entregou-lhes fundos, leis e terras. Concedeu-lhes embaixadores, nomeações, diretrizes presidenciais e tuítes, disse o NYT.
Mais de 70 grupos de defesa, empresas e governos estrangeiros promoveram eventos nas propriedades de Trump que até então eram realizados em outros lugares, ou criaram novos eventos que direcionaram dólares para os negócios de Trump.
Os doadores também pagaram pelo privilégio de dar dinheiro para sua campanha. Trump participou de 34 eventos de arrecadação de fundos realizados em seus hotéis e resorts, eventos que geraram mais US$ 3 milhões em receitas. Às vezes, ele fazia seus doadores formarem filas para perguntar o que eles precisavam do governo.
5) Alguns clientes justificaram os seus gastos em termos religiosos
Quase desde o início da Presidência de Trump, seu hotel em Washington foi um centro de reuniões religiosas, eventos para arrecadar fundos e passeios — eventos que converteram os eleitores mais leais de Trump em alguns de seus clientes mais confiáveis.
Ministros evangélicos proeminentes receberam status de clientes VIP no hotel, de acordo com ex-funcionários, com seus nomes e fotos distribuídos para a equipe junto com os de legisladores republicanos e apresentadores da Fox TV. E eles gastaram muito.
Ao contrário de empresas e grupos comerciais, muitos conservadores religiosos vincularam explicitamente seu apoio aos negócios de Trump à agenda socialmente conservadora de seu governo. Alguns explicaram em entrevistas como Trump entregou tanto para os evangélicos — sobre aborto, juízes, Israel e muito mais — e que eles queriam mostrar sua gratidão.
— Se pudermos apoiar este presidente jantando ou hospedando-nos no seu hotel, então queremos fazer isso — disse Sharon Bolan, um evangelista de Dallas que pertence ao grupo de líderes religiosos nacionais de Trump.
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6) Até mesmo políticos de pequenos países conviveram com o líder do mundo livre.
O NYT identificou mais de 20 funcionários estrangeiros, políticos e empresas ou grupos intimamente afiliados a governos estrangeiros que realizaram eventos nas propriedades de Trump ou pagaram por quartos lá.
Para políticos estrangeiros nos degraus mais baixos da escada diplomática de Washington, até mesmo um encontro casual com o presidente americano pode ser uma vitória de propaganda significativa. Em um baile de gala gala realizado por republicanos locais na primavera passada em Mar-a-Lago, o chefe do sexto maior partido político da Romênia apertou a mão de Trump. Algumas embaixadas mudaram suas recepções anuais ou comemorações da independência para o hotel de Washington.
Quando o primeiro-ministro do enclave sérvio na Bósnia, Zeljka Cvijanovic, parou no hotel e se encontrou com Kellyanne Conway e Sarah Huckabee Sanders, ela divulgou um comunicado à imprensa que quase sugeria uma função estatal. “No primeiro dia de sua visita a Washington, a primeira-ministra Cvijanovic se reuniu com os associados mais próximos do presidente dos Estados Unidos”, proclamou.
7) Selfies e publicações em redes sociais narraram a busca por favores
Muitos dos que buscavam ajuda de seu governo não hesitaram em anunciar seu acesso ao reino do presidente. A investigação do Times inclui uma revisão de centenas de postagens em mídias sociais, muitas de clientes documentando entusiasticamente suas visitas às propriedades de Trump, bem como uma série de notícias publicadas onde alguns clientes falaram abertamente sobre seu acesso.
— Depois que ele se tornou presidente, todos queriam estar perto dele — disse Jeff Greene, um incorporador imobiliário da Flórida e membro de Mar-a-Lago.
Não era tráfico de influência, disse Greene.
— As pessoas gostam de estar onde os presidentes estão.
A Trump Organization não respondeu aos repetidos pedidos de comentários na semana passada, nem respondeu a uma descrição detalhada dos fatos incluídos no artigo.
Um porta-voz da Casa Branca, Judd Deere, emitiu um breve comunicado dizendo que Trump havia “transferido as responsabilidades do dia-a-dia do negócio de muito sucesso que construiu” para seus dois filhos adultos. “O presidente cumpriu todos os dias sua promessa ao povo americano de lutar por eles, drenar o pântano e sempre colocar os Estados Unidos em primeiro lugar”, acrescentou.
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