Com demolição de arquibancada histórica, Estádio do Pacaembu dá início à reforma de R$ 400 milhões

SÃO PAULO - As obras de reforma do Estádio do Pacaembu começaram nesta terça-feira (29) pela demolição de um dos símbolos do estádio, o emblemático tobogã. No começo do ano, a derrubada da estrutura de arquibancada onde os torcedores podiam assistir aos jogos por preços populares foi parar na Justiça por uma ação movida pela Associação Viva Pacaembu contra a prefeitura. Os moradores da região alegavam que a área fazia parte da estrutura original do estádio, que é tombado, mas o argumento não foi acatado pela justiça de São Paulo.

Segundo Eduardo Barella, CEO da Allegra Pacaembu, empresa que ganhou a concessão do Pacaembu por 35 anos em janeiro do ano passado, um dos objetivos da reforma é dar ao complexo "um uso cotidiano para a população". O local onde ficava o antigo tobogã é peça-chave nessa proposta. Nele, a concessionária pretende construir um prédio de quatro andares e outros três de subsolo que vai abrigar um centro de convenções e eventos, o estacionamento, a área de imprensa e vestiários novos. No térreo, o atual estacionamento vai se tornar uma praça de convivência, com oferta de alimentação e outros serviços.

Ao GLOBO, Barella afirmou que o objetivo do projeto é trazer outros esportes para o local, além do futebol. A realização do Campeonato Brasileiro de MMA já é um dos eventos confirmados para este ano.

Outra novidade é o desenvolvimento da maior arena battle royale do mundo, em parceria com a holding de entretenimento BBL. No gênero, até 100 pessoas podem jogar simultaneamente.

— Estamos fazendo uma arena com 482 m² de painéis de LED para 2 mil pessoas assistirem. Ainda podemos transportar isso para o campo, em uma tela de 1,6 mil m² para até 25 mil pessoas assistirem. É algo muito grande — afirmou Barella.

Na terça, a Prefeitura de São Paulo emitiu um alvará autorizando o início da reforma, que terá um custo de R$ 400 milhões e duração de dois anos e quatro meses.

Com a pandemia do novo coronavírus, o local acabou ganhando outras funções. Até junho do ano passado, foi hospital de campanha, depois virou um drive-in, com a exibição de filmes e partidas de futebol e, mais recentemente, abrigou postos de drive-thru de vacinação contra covid-19.

A próxima etapa do projeto é a reforma das arquibancadas laterais leste e oeste. A ideia é criar áreas internas, como as ocupadas pelo Museu do Futebol. De acordo com a concessionária, uma nova estrutura será construída com banheiros e lanchonetes sob as arquibancadas. Durante o período, o museu seguirá funcionando normalmente.

O clube poliesportivo também será reformado. O ginásio poliesportivo voltará a ter uma abertura na fachada norte e os arcos de madeira que compõem a cobertura serão recuperados. Da mesma forma, a quadra de tênis também terá sua cobertura original recuperada. A piscina, que permanecerá com acesso livre e gratuito, vai ter lanchonete, banheiros e vestiários novos.

Maior estádio até inauguração do Maracanã

Pouco conhecido pelo nome original - Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu completou 80 anos em 2020. Até a inauguração do Maracanã, em 1950, ele era considerado o maior estádio do país.

O primeiro jogo de sua história foi em 28 de abril de 1940, um dia depois da inauguração. O Palestra Itália, atual Palmeiras, venceu o Coritiba por 6 a 2.

Ao longo dos 80 anos de existência, os gramados do estádio mais queridinho dos paulistanos recebeu partidas históricas. Uma delas foi em 2012, na final da Libertadores, quando o Corinthians venceu o Boca Juniors por 2 a 0. Em 1950, o estádio também sediou seis jogos da Copa do Mundo.

Já em sua criação, o Pacaembu tinha o intuito de ser um espaço de esporte, lazer e cultura na zona oeste paulistana. Por isso conta com equipamentos como piscina olímpica aquecida, ginásio poliesportivo, quadra de tênis e salas de ginástica - tudo sem custo para os moradores da cidade.

No projeto atual, a ideia é “retomar” a essência da fundação, mantendo a gratuidade de antes, segundo o CEO da Allegra Pacaembu, Eduardo Barella.

— Queremos retomar os pilares da cultura e do lazer e potencializar o uso esportivo, dando ao complexo um uso cotidiano para a população — disse Barella.

Vizinhos são contra shows e tentaram barrar obras

Palco de importantes jogos do futebol paulista, o Pacaembu perdeu espaço nos últimos cinco anos com a inauguração da Arena Corinthians, na Zona Leste, e do novo Allianz Parque, do Palmeiras, na Zona Oeste. O estádio também foi palco de shows para o grande público durante os anos 1990 e início dos anos 2000.

Encravado em um bairro de casas de classe alta, o Pacaembu sempre enfrentou ações dos moradores contra a realização de grandes eventos. Em 2005, a Justiça concedeu liminar à associação de moradores Viva Pacaembu proibindo a realização desse tipo de atração, principalmente à noite.

Em janeiro, a mesma associação conseguiu uma liminar que proibia a demolição do tobogã do estádio. Dois meses depois, a juíza Maria Gabriella Pavlópoulos Spaolonzi recusou o pedido da associação de moradores, argumentando que o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) havia registrado o tombamento do Complexo sem fazer ressalva à estrutura do Tobogã.

Em nota, a prefeitura de São Paulo afirmou que as reformas no estádio do Pacaembu foram aprovadas pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico (Conpresp). “O tombamento do Complexo do Pacaembu não inclui o Tobogã, que, inclusive, não faz parte do projeto original. O argumento foi discutido na Justiça, com decisão favorável pela continuidade do processo de demolição. Como foi destacado, também durante a tramitação judicial, o Tobogã foi alvo de críticas à época de sua construção justamente por descaracterizar o projeto original, ao substituir a concha acústica do estádio” disse a prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Cultura.

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