Superpedido de impeachment de Bolsonaro promove união rara na História do Brasil

Apenas cinco anos após o impeachment da presidente Dilma Rousseff, apresentaram-se juntos, no mesmo palanque político, o líder do Movimento Brasil Livre, deputado Kim Kataguiri, e a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann. Pediam, juntos, um novo impeachment. Estavam lá, também, outros parlamentares: Joice Hasselmann e Jandira Feghali, Alessandro Molon e Tabata Amaral. O encontro político de grupos tão diametralmente opostos politicamente, ainda por cima com brigas profundas a separá-los, acontece na História. Mas é raro.

Carlos Lacerda, que participou das conspirações para o golpe de 1964, se uniu a João Goulart, o presidente deposto pelo golpe, e Juscelino Kubitschek, em 1967. Apenas três anos depois. Lacerda estava entre os que acreditaram que os militares chegariam ao poder e organizariam eleições para o ano seguinte. Não foi trivial convencer Jango a topar o acordo — mas luta contra ditaduras faz milagres.

Em 1947, Luís Carlos Prestes deixou-se fotografar num palanque com o ex-presidente Getúlio Vargas. Faziam campanha contra o governo de Eurico Gaspar Dutra. Durante a ditadura Vargas, Prestes havia passado nove anos preso e foi um dos poucos comunistas poupados de tortura física. Ainda assim, sofreu uma das piores dores. Sua mulher, Olga Benário, que era judia, foi extraditada pelo regime ainda grávida e morreu no campo de extermínio nazista de Bernburg. Dutra estava levando o Partido Comunista para ilegalidade mais uma vez e por isso Prestes se posicionava. O PCB foi ilegal por todo o período do Estado Novo.

Em todas as vezes que algo do tipo aconteceu, valores democráticos de alguma forma estavam em jogo. O direito de uma corrente de opinião se organizar em partido e disputar eleições ou mesmo o direito a votar em eleições para presidente. É a luta por democracia que costuma reunir opostos na política brasileira.

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