Revés para Macron e Le Pen em eleição com abstenção recorde na França

PARIS — Os franceses foram às urnas neste domingo para o primeiro turno das eleições regionais que são tidas como um termômetro para o pleito presidencial de abril do ano que vem. Com uma abstenção recorde — apenas 33% dos franceses foram votar — os resultados preliminares ficaram aquém do esperado para os dois principais pleiteantes ao Palácio do Eliseu: o presidente Emmanuel Macron e Marine Le Pen, candidata da extrema direita.

Nas últimas semanas, pesquisas de opinião indicavam que o partido de Le Pen, a Reunião Nacional, herdeira do antigo partido Frente Nacional, poderia chegar na frente em seis das 13 regiões do país. As pesquisas de boca de urna, contudo, apontam que a sigla lidera apenas em uma, Provença-Alpes-Côte d’Azur, no Sudeste, perto da fronteira com a Itália.

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Ainda assim, previa-se que o candidato de Le Pen, Thierry Mariani, tivesse uma vitória acachapante na região, onde fica Marselha, o que não se concretizou. Os resultados preliminares apontam que ele obteve apenas 33% dos votos, três pontos percentuais a mais que Renaud Muselier, do partido conservador Os Republicanos (LR).

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Um triunfo no segundo turno — seria a primeira vez que a RN comandaria uma região francesa —, no entanto, parece improvável já que os outros partidos costumam a se unir em uma “frente republicana” para manter a extrema direita fora do poder.

Adiado em três meses devido à pandemia, o pleito foi marcado por uma abstenção recorde: segundo estimativas do instituto Ipsos, o índice de abstenção nacional foi de 66,1%. Em 2015, havia sido de cerca de 50%.

De acordo com uma pesquisa feita pela FranceInfo, 39% dos eleitores afirmaram que não foram votar porque as eleições “não vão mudar nada” na sua vida e 23% disseram estar insatisfeitos com a política no geral. O fato de ter sido um dia ensolarado, e o primeiro fim de semana em que o uso de máscaras não é mais obrigatório no país, também parece ter contribuído para o baixo comparecimento.

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Em um curto discurso após os resultados preliminares, Le Pen disse que os apoiadores de seu partido não devem se desencorajar e os incentivou a ir às urnas na semana que vem:

— Se vocês querem que as coisas mudem, é preciso votar — disse. — Eu posso apenas lamentar esse desastre cívico, que deformou demais a realidade eleitoral deste país e dado uma impressão falsa sobre as forças políticas em jogo.

Nacionalmente, Os Republicanos ganharam 27,2% dos votos, seguido pela RN, com 19,3%, de acordo com o Ipsos. O Partido Socialista e sua frente de centro-esquerda teve 17,6% e os verdes, 12,5%. O partido do Macron, o República em Marcha, obteve 11,2% dos votos.

A vitória do LR na região de Altos de França, no Norte do país, é particularmente significativa: as pesquisas de boca de urna deram 44% dos votos para seu candidato, Xavier Bertrand, contra 24,4% do candidato da RN, que fez forte campanha na região, uma margem maior que a prevista.

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O resultado dá um impulso para os planos de Bertrand de ser o candidato conservador no pleito do ano que vem. Após o fim da votação, ele disse que os números indicam que o LR é a melhor opção para fazer frente à extrema direita em 2022.

Políticos da LR também lideram no Grande Leste, na Ilê-de-France, nos arredores de Paris, e na região de Auvérnia-Ródano-Alpes, no Sudeste. Os socialistas devem continuar no poder na Occitânia e na Bretanha.

As eleições regionais são pautadas principalmente por questões locais — mais da metade dos eleitores, por exemplo, disse ao Ipsos que seu voto não é um sinal de adesão ou rejeição ao governo nacional. Para Macron, que tem uma popularidade de apenas 38% entre os franceses, o resultado é tão ruim quanto se esperava.

Uma partidária do presidente, Aurore Bergé, descreveu o resultado como um “tapa na cara democrático” para o partido ao canal BFMTV. Até mesmo em regiões onde pôs ministros como candidatos, ele não teve sucesso.

As eleições, na prática, servem para formar as assembleias nas 13 regiões e nos 96 departamentos franceses. Para um candidato ser proclamado vencedor já no primeiro turno, seria necessário que tivesse ao menos 50% dos votos. A rodada final do pleito será disputada no próximo domingo e, para se qualificar, as listas de candidatos precisam ter obtido mais de 10% dos votos. Os partidos têm até terça-feira para formar alianças e registrar as listas para o segundo turno.

Macron e Le Pen estão empatados nas pesquisas para o primeiro turno do pleito do ano que vem, e a candidata vem ganhando fôlego no segundo turno. Ela é impulsionada por uma base que vê Macron como um líder fraco no que diz respeito à imigração e a segurança nacional, dois temas que serão assuntos-chave em 2022.

Em paralelo, ela vem tentando amenizar a retórica inflamatória eurocética e anti-imigração, buscando o voto da direita e da centro-direita insatisfeita com Macron. Em abril, contudo, se envolveu em controvérsia ao chamar para o seu lado os generais reformados signatários de uma carta aberta na qual sugeriram uma intervenção diante "caos crescente" no país, pressionando Macron a defender a França "do islamismo e das hordas dos subúrbios" que deixam a nação à beira de uma "guerra civil iminente".

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