EUA impõem sanções contra polícia de Cuba, e Biden ameaça mais endurecimento exceto em caso de ‘mudanças drásticas’

WASHINGTON — Os Estados Unidos impuseram nesta sexta-feira novas sanções contra autoridades e entidades ligadas ao governo de Cuba, em resposta à repressão do governo de Havana a manifestantes no começo deste mês. Dessa vez, os alvos foram a Polícia Nacional de Cuba e dois chefes da força.

O Departamento do Tesouro dos EUA disse que as sanções foram uma reação a "ações para suprimir protestos pacíficos e pró-democráticos em Cuba, que começaram em 11 de julho".

Segundo as sanções, "todas as propriedades e interesses das pessoas acima que estão nos Estados Unidos (...) estão bloqueados", e "todas as transações por pessoas dos EUA ou dentro dos Estados Unidos que envolvam qualquer propriedade ou interesses em propriedade das pessoas designadas ou bloqueadas de outra forma estão proibidos".

Para além da sinalização politica, é incerto quais serão os efeitos práticos das sanções.

Também nesta sexta-feira, o presidente Joe Biden se encontrou com líderes cubano-americanos na Casa Branca.

Participaram da reunião Yotuel Romero, vocalista do grupo cubano de hip hop Orishas e autor de "Patria y Vida", uma canção que se tornou o hino dos manifestantes; Ana Sofia Pelaez, fundadora do Miami Freedom Project, e o ex-prefeito de Miami Manny Diaz.

Após a reunião, Biden ameaçou endurecer as sanções contra o país, exceto haja "mudanças drásticas" no país:

— Haverá mais [sanções], a menos que haja alguma mudança drástica em Cuba, o que não prevejo — disse Biden na Casa Branca.

A reunião de Biden no final da tarde ocorre no momento em que a comunidade cubano-americana na Flórida, opositora visceral do governo de Havana, pede mais apoio aos protestos em Cuba.

Os 1,5 milhão de cubano-americanos da Flórida votaram em peso no republicano Donald Trump na eleição presidencial de 2020, e ganhar seu apoio é crucial para o Partido Democrata de Biden vencer o estado decisivo na eleição presidencial de 2024.

Esperava-se que, ao término da reunião, Biden fornecesse uma atualização sobre os esforços dos EUA para ofertar internet wi-fi ao povo cubano, o que não aconteceu. Os smartphones são considerados um importante instrumento de organização dos opositores do regime cubano, que cortou o acesso à internet logo no começo das mobilizações.

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Também eram aguardadas novidades sobre como permitir o envio de remessas de americanos para cubanos sem que o governo se beneficie do dinheiro. A este respeito, Biden disse ter ordenado que o Departamento do Tesouro analise como permitir o envio de remessas, e que o órgão tem 30 dias para avaliar como viabilizar a medida.

Segundo uma autoridade, Biden também discutiu planos para aumentar o pessoal da embaixada dos EUA em Cuba, de modo a fornecer mais assistência ao povo cubano.

Os protestos eclodiram neste mês em meio à pior crise econômica de Cuba desde a queda de seu antigo aliado da União Soviética e a um aumento recorde de infecções por coronavírus.

Os Estados Unidos impõem de modo quase ininterrupto um embargo a quase todas as exportações de Cuba desde 1962. A partir de 2014, o governo de Barack Obama começou uma reaproximação diplomática com o governo cubano, com o objetivo de afrouxar as restrições comerciais, mas ela foi revertida por Donald Trump em 2017, seu primeiro ano na Casa Branca.

Desde a volta das sanções, Cuba vive uma grave crise econômica.

Desde 1992, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou todos os anos uma resolução exigindo o fim do embargo econômico dos Estados Unidos a Cuba. Os Estados Unidos e Israel são as únicas nações a votar consistentemente contra as resoluções. O Brasil se juntou ao grupo nos dois primeiros anos do governo de Jair Bolsonaro, mas se absteve em 2021.

Na semana passada, o Tesouro dos EUA anunciou sanções ao ministro da Defesa de Cuba e a uma unidade das forças especiais do Ministério do Interior, por alegações de abusos dos direitos humanos na repressão aos protestos antigovernamentais neste mês.

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