Olimpíada: Conheça o primeiro recordista mundial de Burkina Faso, que pode se tornar também o primeiro medalhista do país

Em uma montagem bem amadora publicada no Facebook na véspera da abertura dos Jogos, o governo de Burkina Faso encorajou seus sete representantes na Olimpíada de Tóquio a trazer a primeira medalha olímpica do país. Pouco mais de uma semana depois, ao chegar na reta final da Olimpíada, todos foram apagados da disputa — menos um. Em destaque, no centro da imagem, Hugues Fabrice Zango é o cara que a população burkinabé sempre depositou todas as suas fichas. Fazer história para Zango, afinal, não é novidade.

Em setembro de 2019, aos 26 anos, Zango ficara desapontado ao terminar em terceiro lugar no salto triplo no Mundial de Atletismo, mesmo a marca tornando-o o primeiro atleta de Burkina Faso a ganhar uma medalha no campeonato. Menos de dois anos depois, em janeiro de 2021, Zango não apenas carimbou novamente seu nome na história do país da África Ocidental, mas também na do mundo, ao bater o recorde mundial do salto triplo indoor com a marca de 18,07m.

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Agora, o primeiro atleta de todo o continente africano a bater um recorde mundial em uma prova de salto promete levar para Burkina Faso sua primeira medalha na história das Olimpíadas — mas não qualquer uma. Sua busca se inicia oficialmente às 21h desta segunda-feira no salto triplo, modalidade que três brasileiros também disputam.

— Ontem, o objetivo era ir à Olimpíada e ganhar uma medalha — afirmou Zango à BBC após bater o recorde mundial. — Mas agora a meta é ir à Olimpíada e ganhar a medalha de ouro.

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A trajetória de Zango no atletismo começou de certa forma por acaso. Sua vida no esporte iniciou no taekwondo, apesar de futebol e ciclismo serem as modalidades que tradicionalmente mais interessam os burkinabés. Ele chegou a tentar o futebol, mas logo foi para o atletismo na adolescência, quando numa competição escolar um treinador o viu e acreditou que ele poderia ser um bom saltador.

Zango começou a treinar na modalidade em 2012. Quatro anos depois, mudou-se para a França. Na Rio-2016, teve uma atuação aquém do atleta que se tornaria cinco anos mais tarde, deixando a competição na 34ª colocação.

Mas a história de Zargo se transformaria completamente, ainda mais vindo de um dos países menos desenvolvidos do mundo. Burkina Faso ocupa a 8ª pior colocação no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU.

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O país vive uma espiral de violência nos últimos anos causada principalmente por jihadista, o que levou Burkina Faso a ultrapassar a marca de um milhão de pessoas internamente deslocadas no seu território. No massacre mais mortal desde 2015, pelo menos 138 pessoas foram assassinadas em uma vila no Nordeste do país em junho deste ano, em um ataque executado principalmente por crianças entre 12 e 14 anos.

Como se estivesse em um túnel de desesperança que parece não ter fim, Burkina Faso tem hoje um atleta que já é uma referência para as novas gerações.

— Quando você começa no atletismo em Burkina Faso, você tem a impressão de estar na parte mais baixa da escada. Mas ao quebrar o recorde mundial ele provou que nós também podemos fazer isso — disse Khaled Sawadogo, que treina no mesmo campo de terra onde Zango começou, ao Voice of America. — Eu estou mirando em 2024 [próxima edição dos Jogos, em Paris]. Estou fazendo disso meu objetivo pessoal.

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E Zango não é obcecado em zerar tudo apenas no esporte. Formado em engenharia elétrica, ele tem dois mestrados: um em eletrônica e energia elétrica e outro em engenharia de sistemas elétricos na Universidade de Artois, na França, onde atualmente faz doutorado em engenharia elétrica. Vindo de um país com baixos índices de educação, ele também sonha em fazer história na sala de aula.

— Nas nossas universidades [em Burkina Faso], especialmente em disciplinas técnicas, nós temos apenas professores estrangeiros dando aula — disse ele ao site das Olimpíadas. — Meu objetivo é estar entre os primeiros professores locais e compartilhar meu conhecimento com os estudantes do meu país.

Antes disso, no entanto, é na pista que ele quer servir como referência. Treinado pelo francês Teddy Tamgho, de quem ele arrancou o recorde mundial no salto triplo indoor, o saltador parece ver seu futuro exatamente como nas provas que disputa: sem barreiras, limpo.

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Na sua estreia na Olimpíada de Tóquio, às 21h desta segunda-feira, ele pode estar começando a assinar seu nome em mais um capítulo da história.

— Usain Bolt levou o esporte a outro nível. Ele ultrapassou os limites humanos, e é isso que eu quero agora. Melhorar o recorde mundial — afirmou. — 18,29m [recorde do salto triplo outdoor] é bom, mas não acho que esse seja o limite humano. Quando eu me tornar o recordista mundial, terei feito de tudo.

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