Em primeiro evento juntos, Biden e Harris atacam ‘fracasso de Trump’ na pandemia

Os candidatos democratas para as eleições presidenciais dos Estados Unidos em novembro, Joe Biden e Kamala Harris, partiram para a ofensiva contra Donald Trump nesta quarta-feira, na primeira aparição pública da dupla desde o anúncio oficial da chapa ontem.

Depois de um dia inteiro em que Trump e seus aliados não pouparam agressividade em ataques contra Harris, chegando a chamá-la de “nojenta”, os candidatos revidaram mirando principalmente na gestão federal da pandemia da Covid-19, descrita como omissa e calamitosa.

— Este vírus afetou todos os países. Mas há uma razão pela qual ele afetou mais os Estados Unidos do que qualquer outra nação desenvolvida. É por causa do fracasso de Trump em levá-lo a sério desde o início — afirmou Harris em seu primeiro discurso como candidata à Vice-Presidência, acrescentando que o país “está implorando por liderança”. — Isso é o que acontece quando elegemos um cara que simplesmente não está à altura do trabalho. Nosso país acaba em frangalhos, assim como nossa reputação em todo o mundo.

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O evento aconteceu após Trump ter afirmado quatro vezes em menos de 24 horas desde a escolha de Harris que ela é “nojenta”, uma de suas palavras mais empregadas para se referir a mulheres opositoras. Embora a escolha de Harris tenha sido considerada uma opção moderada e pragmática dentro do Partido Democrata, Trump também afirmou que ela é uma “radical de esquerda”.

Realizado em uma escola pública em Wilmington, Delaware, perto da casa de onde Biden comanda a sua campanha, o encontro ofereceu a primeira ideia de como os dois democratas irão operar enquanto equipe durante a campanha. O duo buscou demonstrar a capacidade de guiar o país durante a pandemia, de revigorar a economia e de unir o país contra o racismo e a brutalidade policial, após os maiores protestos antirracismo em décadas.

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Democratas de gerações e regiões diferentes do país, os dois se anunciaram como uma chapa diversa, capaz de refletir uma nação plural. Harris é uma mulher negra jovem (55 anos) e filha de imigrantes da Califórnia, enquanto Biden tem 77 anos, vem da Costa Leste e representa o político tradicional do partido. O ex-vice-presidente descreveu a senadora como uma candidata histórica, cuja trajetória reflete um país diversificado e moderno.

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— Alguém está surpreso que Donald Trump tenha problemas com uma mulher forte ou com mulheres fortes em geral? — afirmou. — Nesta manhã, por todo o país, meninas acordaram, especialmente as meninas negras e pardas que tantas vezes se sentem negligenciadas e desvalorizadas em suas comunidades. Hoje, quem sabe elas estejam se vendo pela primeira vez de uma nova maneira.

Biden fez diversas referências à amizade entre Harris, que foi procuradora geral da Califórnia, e seu filho que morreu em 2015, Beau Biden, procurador geral de Delaware. Ele citou valores que compartilha com a colega, mencionando especificamente o combate ao ódio e se referindo à marcha da Ku Klux Klan realizada em Charlottesville há exatos três anos. O candidato disse que está eleição “vai além de política” e constitui “uma batalha pela alma do país”.

— A pergunta é para todos os americanos responderem. Quem somos nós como nação? O que nós apoiamos? E o mais importante, o que queremos ser? — afirmou Biden. — Uma das razões pelas quais escolhi Kamala é porque ambos acreditamos que podemos definir os Estados Unidos simplesmente em uma palavra: possibilidades.

A este respeito, Harris fez alusão a como seu pai jamaicano e sua mãe indiana se conheceram em uma marcha por justiça social em Oakland, cidade histórica do movimento negro perto das progressistas Berkeley e San Francisco. Ela disse que os dois depois a levariam a outros protestos ainda em carrinho de bebê, e disse que a luta por direitos civis era o primeiro fator a uni-la a Biden.

— Dediquei minha vida a tornar reais as palavras gravadas na Suprema Corte dos Estados Unidos: igualdade perante a lei — afirmou.

Ao fim dos discursos, os dois candidatos posaram para uma fotografia ao lado de seus esposos separados por uma distância de alguns metros, observando que estavam respeitando o distanciamento físico. Algumas centenas de apoiadores compareceram à porta da escola, mas não ingressaram no ginásio onde as falas aconteceram. Ao término de cada discurso, houve um incomum silêncio.

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Resposta republicana

Após o evento, Trump não fez referência ao conteúdo do que os dois democratas disseram, limitando-se a dizer que Harris “é muito ruim com os fatos”. Ele também criticou governadores democratas por manterem restrições durante a pandemia, dizendo que os moradores estavam sendo mantidos em “prisões".

Pouco antes dos discursos, um e-mail enviado pela campanha republicana afirmou que “Kamala Harris foi considerada a senadora mais progressista dos Estados Unidos em 2019 e completa a tomada radical e esquerdista de Joe Biden e de todo o Partido Democrata. Ela o empurra ainda mais para a esquerda do que onde já estava”.

Outro ataque do presidente ao longo do dia foi contra políticas democratas nos subúrbios americanos, as cidades pequenas perto de grandes centros que têm majoritariamente habitantes brancos. Perguntado à noite sobre o que quis dizer quando afirmou que uma vitória de Biden em novembro levaria à “invasão” dos subúrbios, o presidente fez comentários de teor racial, buscando incitar o medo de minorias em moradores desses lugares.

— [Biden e Harris] Vão destruir os subúrbios — disse Trump. — E 30% das pessoas nos subúrbios são de minorias. Eles dizem 35 por cento, mas eu gosto de reduzir isso.

O dia foi marcado também por ataques vigorosos contra Harris na Fox News, desancando desde o seu nome até seu histórico como promotora. Tucker Carlson, apresentador preferido de Trump, várias vezes errou a pronúncia da palavra “Kamala”, e, quando corrigido, limitou -se a dizer “E daí?”.

Harris terá várias chances nos próximos meses de responder diretamente às críticas dos aliados de Trump, inclusive durante um debate sobre a Vice-Presidência em 7 de outubro, quando ela dividirá o palco com o vice-presidente Mike Pence.

(Com New York Times)

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