Presidente de El Salvador vive pressão dos EUA enquanto se esquiva de denúncias de envolvimento com gangues

SAN JOSÉ — O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, está preso em uma encruzilhada: precisa lidar com as ameaças dos Estados Unidos de retirar o apoio financeira direcionado ao plano de redução da pobreza no país da América Central, enquanto tenta se esquivar das acusações que estaria negociando com a Mara Salvatrucha (MS-13), uma das principais quadrilhas salvadorenhas, para conseguir apoio eleitoral — e, em troca, daria regalias aos criminosos na prisão e aliviar as políticas de segurança pública no território.

Mão de ferro:Pandemia revela face autoritária de jovem presidente de El Salvador

Acuado em um cenário de declínio socioeconômico, altos índices de violência e impactado pela pandemia do novo coronavírus, Bukele começou completou 15 dos seus 60 meses de mandato presidencial aumentando as tensões internas e externas do pequeno país salvadorenho.

Na sexta-feira, o jornal El Faro, com base em centenas páginas de documentos oficiais, apontou que, assim que o político do partido Novas Ideias tomou posse, em 1º de junho de 2019, autorizou funcionários do alto escalão de seu governo a procurar líderes presos da MS-13 e negociar regalias em troca da queda no número de homicídios no país. Assim, ganharia apoio eleitoral da população para as eleições legislativas de fevereiro de 2021.

Pelas redes sociais, o presidente desmentiu as acusações, chamando a matéria de "uma das notas mais ridículas que já viu".

"Nos acusam de violar os direitos humanos dos terroristas. Agora dizem que nos lhe damos privilégios?", escreveu no Twitter Bukele, que é visto como um líder autoritário. "Mostrem-me um privilégio. Um só", completou o presidente, compartilhando foto de celas superlotadas das prisões em El Salvador.

Outros casos: Ex-ministro de El Salvador é detido sob a acusação de ter firmado trégua com quadrilhas

A investigação do El Faro se baseou em documentos oficiais do governo e em relatórios de diferentes prisões e agências de inteligência penitenciária. Neles, havia informações detalhadas de encontros entre funcionários do governo e membros da MS-13 — desde a hora de entrada e saída das autoridades nas prisões, quais celas foram visitadas, até relatos dos próprios presos sobre o teor das conversas.

O jornal salvadorenho mostrou ainda que as negociações prometiam desde pequenas regalias diárias, como permitir a venda de diversos produtos alimentares dentro das prisões, a até assumir compromissos de polícias públicas, tais como revogar a medida que adotada em abril de 2019, de manter membros de gangues rivais dentro da mesma cela e relaxar as leis de segurança máxima

Segundo o El Faro, em troca dessas concessões, a quadrilha que tem mais integrantes no país iria diminuir os homicídios e, mais recentemente, apoiar o partido de Bukele nas próximas eleições, conforme estava escrito nos documentos das agências de inteligência penitenciária de El Salvador.

A Procuradoria Geral de El Salvador disse, na sexta-feira, que abrirá uma investigação sobre o caso.

Contradições

A reportagem do El Faro contradiz a política repetidamente proclamada por Bukele de ser implacável com "os terroristas", forma como chama os membros de gangues.

Em uma medida sem precedentes na história do pós-guerra de El Salvador, que ainda sente as consequências da guerra civil que durou de 1980 a 1992, o presidente autorizou em abril desse ano que a polícia e o Exército passasse a usar "força letal" para conter a violência no país, que já sentia o impacto da pandemia.

Repressão:El Salvador autoriza que polícia use força letal contra membros de gangues

Impiedosas, implacáveis, cegas ódio e pela vingança e regidas por um dos códigos mais mortíferos e sanguinários da história da América Central, a MS-13 e a gangue Bairro 18 nasceram na década de 1980 na Califórnia, formadas por guatemaltecos, salvadorenhos e hondurenhos que fugiam das guerras devastavam os países da região. Depois de se espalharem pelos Estados Unidos, seus membros foram deportados para suas nações de origem no início da década de 1990 e trouxeram a violência para El Salvador, Honduras e Guatemala.

Desordem diplomática

Nesse cenário de polêmicas internas, Bukele se deparou com um inesperado conflito externo em maio desde ano: os EUA o advertiram que, caso o salvadorenho tentasse ignorar a independência dos poderes Judiciário e Legislativo, poderiam suspender a entrega de cerca de US$ 300 milhões para um programa de combate à pobreza.

Bukele foi classificado, dentro e fora de El Salvador, como autoritário por desconsiderar uma resolução da Câmara Constitucional do país que, no início de abril e após várias semanas de quarentena devido à pandemia, exigiu que ele cessasse as prisões arbitrárias e as violações de leis. direitos humanos. Sobre isso, a Embaixada americana em El Salvador afirmou que Washington “apoia democracias fortes que respeitem a separação de poderes”.

O presidente fez pouco a respeito dessa e de outras ameaças que recebeu da comunidade internacional, como aconteceu quando invadiu o Congresso salvadorenho, com o apoio das Forças Armadas, para exigir que os parlamentares aprovassem um orçamento de segurança, em fevereiro do ano passado.

Nesse sentido, Washington alertou o presidente que "a continuação de condutas preocupantes" em relação às condições democráticas no país "pode ter consequências negativas" para a associação entre os Estados Unidos e isso é "algo que gostariam de evitar. "

Já sobre as denúncias de estar negociando com criminosos, o embaixador americano em Salvador, Ronald Johnson, minimizou as acusações. O diplomata disse que prefere acreditar que "a redução da violência em El Salvador se deve à cooperação que os Estados Unidos têm com o país”, segundo o jornal La Prensa Gráfica.

Enregistrer un commentaire

0 Commentaires