'Agências devem ser blindadas de pressão', diz presidente da Anvisa após fala de líder do governo na Câmara

BRASÍLIA— O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra, respondeu nesta quinta-feira aos ataques feitos pelo líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR) que em entrevista ao jornal "Estado de S. Paulo" afirmou que o Congresso vai "enquadrar" a agência. Segundo Barra, insituições como a Anvisa devem ser "blindadas de qualquer tipo de pressão.

Questionado sobre o papel de uma agência reguladora, em entrevista à Globo News, Barra destacou que tratam-se de instituições de Estado e não de governo, que não se reportam, portanto, ao presidente da República. De acordo com o chefe da Anvisa, o órgão deve ter o poder, inclusive, de regular instalações do próprio governo federal e precisa "ter independência".

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" Então [as agências] devem, deveriam ser instituições blindadas de qualquer tipo de pressão ou influência. Lamentavelmente, não é o que vemos que está ocorrendo, principalmente no dia de hoje", declarou.

Mais cedo, o líder do governo afirmou que os diretores da Anvisa estão "fora da casinha" ao impor o que considera "um monte de exigências" para autorização de vacinas no país.

"Estou trabalhando. Eu opero com formação de maioria. O que eu apresentar para enquadrar a Anvisa passa aqui (na Câmara) feito um rojão. Eu vou tomar providências, vou agir contra a falta de percepção da Anvisa sobre o momento de emergência que nós vivemos. O problema não está na Saúde, está na Anvisa. Nós vamos enquadrar”, disse.

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Para o presidente da Anvisa, a fala de Barros é "o exato contraponto" do trabalho desenvolvido pela agência que, segundo ele, está entre os mais céleres do mundo. Ele comentou ainda o regime de trabalho adotado pelos servidores da agência durante a pandemia da Covid-19 é intenso e comentou que tem dificuldade de saber que dia é hoje.

"Nós não temos mais um horário já há muitos meses. Então muitos estão trabalhando aqui presencialmente, como eu, muitos outros estão em teletrabalho, mas o final de semana, o dia livre, a noite, isso tudo já deixou de fazer sentido para nós. Hoje mesmo nós estávamos aqui nos perguntando que dia que nós estávamos porque essa noção de tempo já ficou pra trás há bastante tempo. Então existe, claro, um horário de expediente, na parte funcional, mas que vem sendo excedido já sobremaneira há muito tempo", afirmou.

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Em sua entrevista, o líder do governo na Câmara afirmou que a Anvisa retirou a exigência de condução de estudo de fase 3 no Brasil para concessão da autorização emergencial de uso, mas impôs outras exigências.

"Eles tiraram a fase 3 e colocaram um monte de exigências. Eles não entenderam ainda. Estão fora da casinha, não sabem que estamos numa pandemia, que precisamos de coisas urgentes, que precisamos facilitar a vida das pessoas. É só exigência. Não é possível que tenha 11 vacinas aprovadas em agências no mundo inteiro e nós só temos duas, e eles não estão nem aí com o problema”, disse Ricardo Barros.

O presidente da Anvisa rebateu a declaração e disse que há critérios que não podem ser deixados de lado, como o fornecimento de dados completos sobre os ensaios clínicos conduzidos em outros países. Ele disse ainda que nenhum país do mundo tem 11 vacinas aprovadas e em uso.

"Veja bem, cabe a nós a responsabilidade de atestar para que seus familiares possam se vacinar com segurança, com qualidade, com eficácia. Essa responsabilidade imensa num cenário de desenvolvimento vacinal feito em tempo também recorde, que nunca houve precedente, demanda uma análise bem feita e temos feito isso ao abrir mão de tudo aquilo que consideramos passível de se abrir mão, mas há coisas que realmente não é possível (abrir mão).Por exemplo: estudo clínico de fase 3, se ele for feito no país de origem (da vacina) e esse país nos conceder a completude e a transparência dos dados, vamos analisar", rebateu.

Novas vacinas

Sobre a tramitação da vacina Sputnik V, da Rússia, e da Covaxin, da Índia, Barra comentou que representantes da equipe que produz o imunizante russo em Brasília já se reuniram várias vezes com a Anvisa e terão outro encontro nesta sexta-feira.

" Nós estamos aqui na expectativa muito intensa de que a questão documental seja enriquecida amanhã a ponto de que essa análise progrida, para que a gente o mais rapidamente possível possa fornecer respostas", comentou.

Ele explicou ainda que a Covaxin "está um pouco mais distante", já que ainda não houve reunião com os fabricantes. E ressaltou que a agência, por também ser reguladora de mercado, "não pode sair com um laço na mão chamando empresas".

"Porque nós estaríamos de certa maneira privilegiando empresas em detrimento de outras. Então é necessário que essas empresas nos procurem, venham até nós", justificou.

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